19.12.2011 - O religioso que provocou desconcerto na Igreja Católica pelas performances, hoje leva a vida como qualquer outro padre
De terça a domingo, no começo da noite, a Igreja de São Caetano, bairro de Salvador, se prepara para receber as dezenas de fiéis. Eles chegam, se cumprimentam, conversam com o pároco Alessandro Mendonça Nonato, que circula pelo pátio externo, e aguardam o começo da missa. No altar, os coroinhas organizam a mesa, posicionam a bíblia e esperam em pé a entrada dos sacerdotes. Minutos depois, pela lateral da paróquia, quase imperceptível, vestido com um túnica bege, caminhando vagarosamente e sem olhar muito para os presentes, chega José de Souza, o Padre Pinto.
Da roupa que usa ao físico e à própria disposição, nada lembra o religioso, ex-pároco da Igreja da Lapinha, protagonista de um dos casos recentes e controversos envolvendo o catolicismo baiano. Artista plástico, ex-aluno de balé do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o Padre Pinto atraiu a curiosidade nacional, em 2006, pelas performances diferentes que realizava durante as celebrações. Ele já entrou em roda de capoeira, se vestiu de Oxum – orixá das águas doces no Candomblé – na tradicional festa dos Reis Magos, fez ritual indígena dentro da igreja, deu selinho em Caetano Veloso, posou para ensaios, foi a boate gay em Salvador, bebeu tudo o que tinha direito e bombardeou, em diversas entrevistas, a instituição da qual é representante há mais de 30 anos, inclusive se posicionando contra o celibato.
Esse passado agitado, entretanto, parece mesmo ter ficado para trás. Sem os olhos delineados de lápis preto, sem o costumeiro tom róseo na boca, sem pulseiras, anéis e as gargalhadas, a vida do vice-pároco da Igreja de São Caetano passou a ser como a de qualquer outro membro da Congregação das Divinas Vocações: com muita discrição e reserva. “O trabalho que tinha para fazer na Lapinha, eu fiz. Muita gente de lá ainda vem acompanhar as minhas missas, tem o carinho e o respeito por mim”, diz o padre que hoje prefere não ser fotografado
Se para qualquer seguidor do catolicismo a maneira como Padre Pinto conduz as missas hoje não chama a atenção, para alguém, cuja a principal referência era a vibração e encenação vistas na Lapinha, a postura do sacerdote é, no mínimo, excessivamente tímida. Com quilos extras e com a aparência mais envelhecida, Padre Pinto é mais calado do que os demais. Quase não acompanha os cânticos religiosos, praticamente não desvia sua atenção do altar e, dos fundos da igreja, a voz parece até incompreensível – também pela acústica do próprio espaço.
O vizinho do portão
No entorno da Paróquia, praticamente, ninguém sabe que ali vive Padre Pinto. Os comerciantes, que eventualmente lembram do religioso, dizem quase nunca vê-lo circulando pelas ruas da comunidade. “Quando ele sai é de carro. E por aqui também não vejo muito. Às vezes a gente avista ele no portão, mas é só até ali e nada mais”, diz a baiana de acarajé que atua em frente a localidade. Ela, assim como a maioria das pessoas entrevistadas, preferem não revelar os nomes. O motivo: “deixar o padre na dele sem me meter”.
Das festas memoráveis nas noites da Lapinha também não se tem mais relatos. Na maior comemoração da Paróquia, no dia sete de agosto, dia de São Caetano, a quermesse que costuma mobilizar o local é comandada diretamente pelo pároco Alessandro Nonato. Padre Pinto participa apenas dando suporte no que é necessário. “Quem se envolve mesmo não é ele. A gente sabe que ele participa e tudo, mas não tem nada demais na quermesse”, relata uma fiel da igreja.
O próprio Padre admite que o trabalho desenvolvido atualmente tem outro viés. “Aqui faço uma coisa mais interna mesmo. Tenho me dedicado muito às leituras e a celebração das missas”, diz. Além de São Caetano, Padre Pinto também reveza com outros padres o comando de cultos na capela Nossa Senhora da Conceição, na Boa Vista.
“Das vezes que eu o vi à frente das missas, foi tudo tranquilo. Ele leu o evangelho, foi muito compreensivo com o tema, explicou e pronto”, conta um voluntária da Capela da Conceição. A voluntária disse ainda que nas poucas conversas travadas com o vigário, não notou nada de diferente ou que fugisse as convenções.
O ritual da Adoração, um dos mais importantes dentro da liturgia católica, também é feito de forma prevísivel. Logo depois ele desejou “Boa Noite” e se retirou, silencioso, para a casa em que vive, nos fundos da Paróquia. Repetindo o gesto, os fiéis deixam o local e a única coisa que não se vê é espanto ou supresa pela missa “normal” que acaba de ser celebrada.
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Fonte: http://fratresinunum.com e 97News.com.br