Espanha: agressões de filhos contra pais triplicam em 3 anos


18.11.2011 - Os filhos que agridem os pais física e psicologicamente são um problema para a Justiça na Espanha. Segundo a Procuradoria Geral do Estado, 8 mil pais denunciaram seus filhos no último ano. O número mais que triplicou desde 2007, quando foram registrados 2.680 casos.

Estima-se que somente um a cada oito pais agredidos lutem na Justiça contra seus filhos. "Denunciar é difícil. É reconhecer que não se consegue controlar um adolescente, que não colocamos limites e ainda temos a culpa, a vergonha e o medo de tudo continuar sem solução", desabafa a presidente da Associação de Famílias pela Convivência (Afasc), uma organização anônima, e que prefere não ser identificada.

O perfil médio dos denunciados aponta para adolescentes de 16 ou 17 anos, mas há crianças de até 12 anos envolvidas nos processos. Em 2007, a maioria dos agressores era meninos, mas os números do último ano apontam que os denunciados estão divididos quase que igualmente entre meninos e meninas. "As vítimas são mães e os avós, pessoas que geralmente se defendem pior", segundo José Antonio Luengo, diretor técnico da defensoria do menor de Madri.

Segundo especialistas, as causas são principalmente três: crianças com problemas psicológicos e psiquiátricos; crianças que estejam ligadas a grupos marginais, que usem drogas e vivam num ambiente sem afeto; e - na maioria - filhos de classe média e média-alta cujos pais nunca impuseram limites. "É a 'síndrome do imperador', mostrando um menor tirano e narcisista com afã de poder", explica Valentín Martínez-Otero, psicólogo, pedagogo e autor do livro La buena educación (A boa educação).

Para Eduardo Atarés, diretor do Programa Recurra da Associação para a Gestão da Integração Social, não é muito difícil identificar este comportamento agressivo porque muitas vezes ele se estende à escola e a outros ambientes de convívio da criança. Além disso, como lembra José Antonio Luengo, a crise econômica provoca um aumento de estresse no núcleo familiar e também é um fator desencadeante da violência dos filhos.

"Quando não dávamos dinheiro para ele, a resposta eram gritos, ameaças e insultos. Mesmo quando não nos damos conta, outros pais acabam nos alertando para o problema", explica uma mãe, vítima de seu filho, que não quis se identificar.

"Quando entendi que a situação não ia se resolver com meus métodos", conta a presidente da Afasc, "achei que denunciar era a única coisa que podia fazer com que ele mudasse. Foi a decisão mais dolorosa que tomei". Ela denunciou o filho depois de dois anos sofrendo agressões de seu filho.

Apesar da denúncia ser um passo importante e difícil, há mais desafios em jogo. A Justiça precisa analisar o caso e aplicar a medida que julgar necessária para corrigir a criança, e alguns casos não chegam a juízo por falta de consistência. Em 2010, somente 4.995 dos 8 mil casos foram a juízo. Essas medidas vão desde trabalhos comunitários e liberdade vigiada até reclusão de um ano em centros de reabilitação de menores especializados em violência intrafamiliar, dependendo da gravidade, do número e intensidade de agressões.

"Tive que fazer três denúncias até que eles levassem o caso a sério. Durante os quatro meses que durou o processo, a situação em casa piorou muito porque meu filho via que ele me agredia mais e não havia nenhuma consequência", lamenta uma mãe. "Infelizmente o processo é lento e a loucura em casa continua igual até o julgamento. Parece estranho uma mãe falar isso, mas só quando meu filho foi internado consegui dormir bem à noite, sabendo que ele não estaria nas ruas, que nem eu nem ele corríamos perigo", conta a presidente da Afasc.

Após o cumprimento da pena, há acompanhamento de tutores legais. "O tempo de tutoria não é suficiente e o choque de ter seu filho novamente em casa é grande", reclama a presidente. "Temos que fazer um trabalho diário de não odiar filho e compreender que ele também sofre", completa uma mãe.

Eduardo Atarés afirma que não se pode prever que o número de casos seguirá aumentando, mas o total de denunciantes sim. "Cada vez mais as vítimas buscam uma solução para este problema. Também não podemos esquecer que não é só a qualidade do tempo com a criança que importa, mas também uma boa quantidade de tempo", defende.

Na Espanha o castigo físico para crianças é proibido, mas José Antonio Luengo adverte que a falta da "palmada" não é uma das causas de aumento da violência: "esta lei tem três anos e os adolescentes agressores ainda podiam receber o 'tapa no bumbum' quando crianças".

O Terra entrou em contato com ONGs, a Secretaria de Direitos Humanos e os Ministérios Público e da Justiça. Segundo os órgãos, no Brasil não há estudos ou levantamentos nacionais sobre violência de jovens contra seus pais.

Fonte: Terra noticias

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