06.10.2011 - Na homilia da Missa que presidiu no dia 4 de outubro pelo dia de São Francisco de Assis na arquidiocese de Los Angeles, a maior dos Estados Unidos, o Prefeito da Congregação para o Clero no Vaticano, Cardeal Mauro Piacenza, assinalou que o mundo de hoje necessita urgentemente sacerdotes santos nos quais nada do humano possa um dia obscurecer a beleza e a fascinação do Senhor.
ACI Digital publica nesta nota alguns extratos desta homilia e de outros três discursos que pronunciou o Cardeal Piacenza durante sua estadia na cidade de Los Angeles, nos quais meditou sobre a identidade do sacerdote, a centralidade das Escrituras, a importância vital da Eucaristia, e a urgência da santidade.
Em sua homilia da Missa que celebrou no Seminário Arquidiocesano, o Cardeal meditou sobre o exemplo de São Francisco de Assis, quem "acendeu o mundo de ardor missionário e reorientou o olhar e o coração dos fiéis para o essencial: Jesus de Nazaré, o Verbo eterno feito Homem, morto e Ressuscitado!"
O Cardeal disse que "a experiência da vocação é sempre a de uma grande predileção, imerecida, nunca fruto de esforços humanos, mas dom gratuito da misericórdia de Deus. Na vocação todos nós fomos ‘tomados por Cristo’, envolvidos em seu intuito de amor, abraçados em uma história que será eterna!"
"Esta inserção na vida divina, iniciada no santo batismo, e para nós extraordinariamente renovada pela vocação sacerdotal, tem o sabor da totalidade. Cristo dá tudo e pede tudo!"
Esta entrega total do sacerdote, explicou, dá-se na Cruz como mostra o exemplo da vida de São Francisco, cujo memorial se celebra cotidianamente na Eucaristia que deve ser "o verdadeiro centro da vida de um seminário e de um seminarista".
"Sem esta centralidade eucarística orante, que supera qualquer outro meio formativo, não há autêntica formação sacerdotal. Por isso é tão importante uma autêntica e correta vida litúrgica! O homem da Eucaristia se forma na escola da Eucaristia".
Por isso, alentou, "devemos implorar com insistência aquela radicalidade e aquele ardor que teve São Francisco para quantos se preparam hoje para o Ministério Sacerdotal".
O Cardeal animou logo os seminaristas a viverem intensamente o tempo de formação no seminário, com muito trabalho "freqüentemente fatigante, sobre nós mesmos, para que nada de nossa humanidade possa um dia obscurecer a beleza e a fascinação do Senhor!"
O seminário, continuou, é o tempo da preparação da Verdade, "não das opiniões de um teólogo ou outro, mas sim da Verdade que Deus nos revelou sobre Si mesmo e que, nas diferentes épocas da história, permanece sempre imutável, como Cristo, que é o mesmo ontem, e hoje e sempre!"
A Palavra de Deus na vida do sacerdote
No dia 3 de outubro, o Cardeal Piacenza dedicou uma conferência aos seminaristas chamada "A Palavra de Deus na vida do sacerdote" na qual meditou sobre a exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini.
Em espanhol, o Cardeal explicou a importância do Concílio Vaticano II para a vida da Igreja Católica, que deve ser compreendido como um fato vital que não gera ruptura. "Sempre é bom recordar que a única autêntica hermenêutica do grande acontecimento conciliar é a da continuidade e da reforma", indicou.
"Não existem duas Igrejas católicas, uma pré-conciliar e uma pós-conciliar; se assim fosse, a segunda seria ilegítima!", precisou logo.
O Cardeal vaticano disse logo que esta perspectiva é importante para entender a função das Sagradas Escrituras na vida de todo presbítero. A Palavra de Deus, disse, "é uma pessoa, não um livro. É necessário reconhecer que o Cristianismo mantém, em relação aos escritos nos quais se inspira, uma relação única, que nenhuma outra tradição religiosa pode ter".
Estas Escrituras, explicou também o Cardeal, não pode separar-se da Tradição: "Nunca é lícito separar a Escritura da Tradição; como tampouco é lícito separá-las da interpretação que delas deu e dá o Magistério da Igreja. Separações deste tipo suportam sempre muito graves conseqüências espirituais e pastorais".
"Uma Escritura sem Tradição seria um livro histórico e a história nos fala do pensamento de outros, enquanto que a Teologia quer falar de Deus", precisou.
O Cardeal indicou além que "o trítico Escritura-Tradição-Magistério, em realidade, desde o ponto de vista estritamente histórico, deveria configurar-se como: Tradição, entendida como lugar no qual a Escritura nasce, Escritura e Tradição vinculada à Escritura; tudo, autorizadamente interpretado pelo Magistério, quer dizer, pelos legítimos Sucessores dos Apóstolos".
Tudo isto, afirmou, evita "prudentemente algumas unilateralidades ilegítimas".
Para ler, conhecer e aderir-se às Sagradas Escrituras, o sacerdote deve lê-las tendo sempre em conta o aspecto pneumático, quer dizer, da participação essencial do Espírito Santo.
"Se Cristo for a plenitude da Revelação e toda a existência de Cristo está no Espírito, então a mesma Revelação é um evento pneumático: a Tradição é animada pelo Espírito, a Escritura é inspirada pelo Espírito e o Magistério, na tarefa de interpretar autorizadamente Escritura e Tradição, é guiada pelo Espírito", disse o Cardeal.
O Prefeito assegurou logo que com a leitura das Escrituras no Espírito, "deve-se evitar todo enfoque meramente positivista ou limitado ao historicismo, que não permita a compreensão do significado real do texto".
"As Escrituras, se nos aproximarmos delas prescindindo de sua dimensão pneumática, ficam como mudas e, em lugar de falar de Deus e fazer que escutemos Sua Voz, narram simplesmente uma história".
Depois de ressaltar a importância da Liturgia das horas na vida do sacerdote, o Cardeal Piacenza explicou que os presbíteros "pelo ministério que nos encomendou, não somos somente, com todos nossos irmãos, ouvintes da Palavra, mas também autorizados anunciadores e intérpretes desta".
Por isso, disse, "não podemos anunciar o que não conhecemos e não tornamos nosso; portanto, a possibilidade do anúncio está estruturalmente vinculada ao conhecimento das Escrituras e à familiaridade e identificação com o pensamento de Cristo".
Neste processo, explicou, não há "mecanicismos" mas uma vida profunda interior profunda que permita fazer vida a Cristo, sua mensagem, que também servem para transformar a cultura cotidiana.
"Nada, como o anúncio da Palavra, gera cultura. Quer dizer, gera um modo novo de conceber a vida, as relações, a sociedade e inclusive a política. Um modo que, quanto mais evangélico é, mais descobre como profunda e surpreendentemente correspondente ao coração humano", explicou o Cardeal Mauro Piacenza.
Homens da Eucaristia
Na mesma segunda-feira 3 de outubro, o Prefeito da Congregação para o Clero presidiu uma Missa na que participaram os sacerdotes de Los Angeles de língua espanhola, aos quais recordou que o presbítero deve ter a Eucaristia como centro de sua vida.
O Cardeal explicou que "qualquer compreensão diferente do ministério, embora tenda a ilustrar aspectos relativos a este, corre o risco de resultar uma redução substancial. O sacerdote é e deve ser principalmente o homem da Eucaristia, segundo o sentido amplo que tem este grande Sacramento e, portanto, certamente, não deve reduzir o ministério a uma função cultual".
A identidade sacerdotal, disse logo, nasce também e principalmente do Batismo. Por seu ser presbítero, se exige mais que ao leigo "porque ao sacerdote é dado muito mais! E não se trata de voltar para formas de clericalismo, que no passado feriram a comunhão eclesiástica, mas de ficar à escuta de modo singelo, honrado e fiel do que Cristo mesmo estabeleceu para Sua Igreja: o modo concreto que Ele escolheu para permanecer ao longo dos séculos como Presença salvífica ao lado dos homens".
O sacerdote, como administrador de sacramentos como a Reconciliação, deve brilhar sempre por seu exemplo, já que "Não pode haver nada, no Sacerdote, que não faça referência à Redenção!
Assim, cada sacerdote deve chegar a ser "de modo cada vez mais perfeito ‘imagens vivas’ de Cristo Bom Pastor. Isto é o que espera o povo Santo de Deus de nós, isto é o que espera o Senhor de nós: que o façamos presente no mundo, a Ele e sua salvação".
Sacerdotes Santos
No dia 4 de outubro o Cardeal Piacenza dirigiu também um discurso em italiano aos seminaristas de Los Angeles, no qual explicou que o mais urgente no mundo de hoje, é a santidade de cada fiel.
Em seu discurso breve o Cardeal explicou a primazia de Deus na vida das pessoas deve plasmar-se na vida de oração, da intimidade divina, "primado da vida espiritual e sacramental. A Igreja não necessita administradores e sim homens de Deus! (...) A Igreja necessita homens crentes e acreditáveis, de homens que, acolhida a chamada do Senhor, sejam Suas motivadas testemunhas no mundo!"
"A Igreja –prosseguiu– necessita sacerdotes que, nas tempestades da cultura dominante, quando a ‘barca de não poucos irmãos é golpeada pelas ondas do relativismo’ saibam em efetiva comunhão com Pedro, ter firme o leme da própria existência, das comunidades confiadas a eles e dos irmãos que pedem luz e ajuda para seu caminho de fé".
O Cardeal se referiu logo à importância essencial da formação intelectual, que deve estar orientada a "transmitir os conteúdos certos da fé, argumentando-os racionalmente" que deve ir acompanhado do exemplo de sacerdotes Santos.
Nesta formação resulta vital o conhecimento do Catecismo da Igreja Católica, um dos grandes frutos do pontificado do João Paulo II, assim como o Concílio Vaticano II, interpretando-o corretamente e não com "o chamado ‘espírito’ do Concílio, que tanta desorientação gerou na Igreja, e sim com o que realmente o evento conciliar disse, em seus textos à Igreja e ao mundo".
Depois de explicar novamente que não existe uma "Igreja pré-conciliar ou pós-conciliar", o Cardeal exclamou que "a verdadeira prioridade e a verdadeira modernidade, queridos, é a santidade! O único possível recurso para uma autêntica e profunda reforma é a santidade e nós necessitamos reforma!"
"Para a santidade não há um seminário, mas aquele da graça de Nosso Senhor e da liberdade que se abre humildemente a sua ação plasmadora e renovadora!", concluiu.
Fonte: ACI
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