Artigo do Seminarista Ian Farias: Assunção de Maria: Prefiguração da nossa ressurreição


15.08.2011 - Assumpta est Maria in caelum: gaudent Angeli, laudantes benedicunt Dominum.

Este, caríssimos, é o clamor que brota das entranhas da Igreja neste feliz e venturoso dia. Dia em que celebramos, com grande júbilo, a Solenidade da Assunção da Bem aventurada Virgem Maria aos Céus, a maior de todas as suas festas.Esta, juntamente com Santa Maria Mãe de Deus e a Imaculada Conceição, constituem as três Solenidades Marianas do ano litúrgico, e estas três juntamente com a Perpétua Virgindade constituem os quatro dogmas marianos.

Celebrar a Virgem, que hoje gloriosamente vai ao encontro de Seu Filho, é celebrar toda a humanidade que, fragilizada pelo pecado mas confiante na Misericórdia de Deus e em sua infinita bondade, ruma à eternidade esperada. Louvar a Deus pelos benefícios realizados em Maria é um dos motivos desta festa. Louvai, ó Igreja! Louvai, ó cristãos! Louvai, povos todos! Pois hoje não contemplamos apenas a gloriosa figura de Maria, no entanto a figura de todos os cristãos que haverão de ressuscitar um dia. “A Assunção da Santíssima Virgem constitui uma participação singular na Ressurreição do seu Filho e uma antecipação da Ressurreição dos demais cristãos” (Catecismo da Igreja Católica, n. 96). Hoje celebramos a “Páscoa” de Maria.

Ela durante toda a sua vida terrena, desempenhou um papel singular entre todas as criaturas humanas. Ela foi agraciada por Deus para ser a Mãe do Salvador, papel este que desempenhou com máxima humildade. Ela é exemplo a ser seguido por todos os homens e mulheres que se empenham com fidelidade ao anúncio do Evangelho. Em Maria a humanidade tem a certeza de que, somente se estiver unida a Cristo, poderá resplandecer e poderá triunfar sobre todo o mal e nisto consiste a nossa esperança, nossa tranquilidade e a nossa paz.

Na primeira leitura, retirada do livro do Apocalipse (Ap 11,19a; 12,1.3-6a.10ab), são-nos apresentadas duas figuras: de um lado o dragão, onde figura Satanás e toda a maldade; de outro “uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas” (v. 1). A mulher dá à luz um Filho, “para governar todas as nações com cetro de ferro” (v. 5). Sabemos que o filho representa a pessoa de Nosso Senhor, porém, quanto a mulher, muitas vezes confunde-se entre Maria e a Igreja. Diria que poderíamos nos referir as duas (apesar de referir-se a Igreja em primeiro plano), pois Maria, prefiguração da Igreja, concebe o Cristo humano, enquanto a Igreja concebe o Cristo eucarístico, que, deveras, só quis tornar-se tal por causa da sua concepção no ventre de Maria.

Satanás, autor e princípio do mal, treme ao ouvir pronunciar o nome da Santíssima Virgem, constatamo-lo sobretudo nos rituais de Exorcismo. Ele não se cansa de tentar atacar a Igreja, de fazê-la tentar curvar-se sobre o peso do fardo dos pecados de seus filhos que durante dois milênios carrega. Só que, apesar deste fardo, a Igreja leva algo muito mais confortador e forte: Jesus Cristo e a sua mensagem salvadora. E quem pode curvar-se ao cansaço quando sua força é o Salvador do mundo, a verdadeira fortaleza do homem?

Na segunda leitura (1Cor 15, 20-27a), o apóstolo escreve: “Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão. Porém, cada qual segundo uma ordem determinada: Em primeiro lugar, Cristo, como primícias; depois os que pertencem a Cristo, por ocasião de sua vinda” (vv. 22-23). Sabemos que nenhuma criatura foi “mais” de Cristo do que Maria. Nela a luz de Deus nunca foi ofuscada, pois Ela não foi maculada pelo pecado.Ela é a criatura perfeita criada por Deus, que jamais conheceu a corrupção, e por isso teve o seu corpo santíssimo elevado pelo seu Filho à glória celeste.

Adão, primeiro homem, curvou-se ao pecado pela desobediência, persuadido pela sua companheira. Ora, Jesus, novo Adão, vem aniquilar o pecado, vem restaurar o laços do homem com Deus, rompidos outrora. Se a Jesus cabe a figura do “novo Adão”, a Maria cabe a figura da “nova Eva”, pois como por esta entrou o pecado e a desgraça, por aquela entrou a graça e a salvação. Daí compreendemos o que dirá São Luís Maria de Montfort em seu Tratado da Verdadeira Devoção a Maria, cujos 300 anos estamos para celebrar: “Como por Eva entrou o pecado no mundo, por Maria entrou a salvação”. E ainda: “Por meio de Maria a salvação entrou no mundo e é por meio dela que deverá consumar-se”. Compreende-se aqui o importante papel que Maria tem na história da salvação, e que toda a sua vida, para tal grandeza a que quis elevá-la o Salvador, não poderia ser ferida pelo pecado, para que desta forma ficasse patente a todos os homens: Maria também é parte singular da salvação.

Alguns Padres da Igreja afirmam que Maria não morreu, mas dormiu. Na Igreja Oriental chama-se esta festa Dormição de Maria, pois, de imediato, afirma-se que Ela, para assuntar ao céu, não precisou passar pela experiência da morte, mas apenas repousou em profundo sono. Ora, haveríamos então de indagar-nos, porque Cristo precisou passar pela morte e a Sua Mãe não o necessitou? Levemos em consideração primeiramente o fato de que, passando pela morte quis Ele redimir a humanidade e livrar todos os homens das pernas eternas, abrindo, em sua ascensão, as portas do Reino celeste. Maria já encontrara tais portas abertas, e Seu Filho, já ressuscitado e glorioso, eleva-a, não à sua condição trinitária, mas a uma condição acima de todas as criaturas, até mesmo dos anjos.

De muitos santos conservam-se relíquias; de Maria não há nada a conservar-se, a não ser o testemunho. E por que nada foi-nos deixado? Justamente porque nada era necessário deixar-se senão o exemplo e a fé, que são os maiores de todos os presentes. Ela aceita ser instrumento de Deus e submete-se aos seus salvífico desígnios.

No Santo Evangelho Maria entoa o seu belíssimo poema Magnificat. “Minha alma engrandece o Senhor”. Precisamente por esse engrandecimento foi também Maria engrandecida. Sua glória resplandece em todo o mundo e brilha, como luzeiro, indicando o caminho a ser trilhado: onde imperam as trevas e o cada vez mais constante afastamento de Deus. Esse engrandecimento da alma de Maria deve ser reflexo de cada homem. Todos são chamados a engrandecer o Senhor, a contemplar nEle a verdadeira felicidade. O coração do homem palpita Deus. A hodierna sociedade tem sede de Deus, e sabe que só Ele pode completá-la. O endurecimento do coração a Deus é o afastamento do homem da sua salvação.

Por fim, um último aspecto que gostaria de ressaltar é outro trecho do Evangelho onde Maria afirma: “Todas as gerações me chamarão bem-aventurada” (Lc 1, 48). Infelizmente alguns de nossos irmãos que se dizem “cristãos” não reconhecem a veneração a Maria a ser prestada somente pelo fato de ser Mãe do Salvador. Se não reconhecem apenas por esse motivo que sobrepõe-se a todos os outros, não reconhecerão também sua assunção e suas aparições constantes no mundo. Certamente eles não escutaram este profético anúncio: “todas as gerações”. Não algumas, mas todas. A todos é dado a possibilidade da salvação!Ide a Maria, Mãe de Misericórdia e vereis se, com o coração convertido, não alcançareis a salvação. Reconheçam, pois, todos os povos a grande graça que Deus operou em Maria. Nela contemplamos a verdadeira “Arca da Aliança”, pois nela Deus oferece-nos Jesus, que veio instaurar a “nova e eterna Aliança”, firmada pelo seu sangue.

Hoje nós a invocamos e pedimos: Ó Mãe assunta ao Céu, interceda por nós a vosso Filho. Vós que sois mãe de eterna Misericórdia, onde não há ódio, entretanto só amor. Olhai pelo mundo que sofre e clama por Deus. Manifestai, Mãe santíssima, a ternura que vemos em vossos olhos, o afeto que sentimos nas vossas mãos, o amor que tens em vosso coração, e dai-nos a graça de caminharmos para a felicidade de contemplarmos a face de Cristo, Senhor e Juiz da História. Amém!

Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/


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