21.07.2011 - O ex-primeiro ministro britânico Tony Blair disse: “Questões religiosas e culturais, serão determinantes neste século” (1). Em 11 de setembro de 2001, os terroristas islâmicos decidiram que novo século também seria de guerra, sangue e lágrimas. O ataque ao coração do império americano desfechado em 11 de setembro, dia que terroristas mataram em uma única manhã 3000 inocentes de 54 nacionalidades, adeptos das mais diversas religiões. Entre as vítimas estavam quatro brasileiros (2).
Com tragédia de 11 de setembro o mundo ficou estarrecido, desconfiado e impactado com a síndrome do Apocalipse.
Pesquisas de opiniões detectaram uma tendência real e persistente de os americanos enxergarem o Islã e os muçulmanos através das lentes do extremismo. O instituto Gallup mostrou em 2010 que 53% dos americanos veem o Islã de forma negativa. No entanto, a escritora e jornalista americana Gwendolyn Willow Wilson, uma das autoras de HQs e graphic novels mais expressivas da atualidade, se converteu ao islamismo. Ela é autora do livro: “A Leitora do Alcorão-Como uma jovem americana se converteu ao Islã e encontrou o amor”. Para Willow, a guerra entre o Islã e o Ocidente, na qual a experiência humana é o único guia confiável, é de natureza humana. “Estamos todos no topo da montanha e devemos aprender a olhar o mundo não através das autoridades autonomeadas, mas com nossos próprios olhos”, diz Willow (3).
O Islã é a segunda maior religião do mundo, com 1,6 bilhões de pessoas, representando 23% da população mundial. É a segunda maior religião na Europa e em breve será a segunda maior nos Estados Unidos.
Apenas 20% dos muçulmanos se encontram no Oriente Médio e no norte da África. A Ásia abriga 60% de todos os muçulmanos do mundo, graças à sua enorme população. Os muçulmanos chineses, por exemplo, somam maior número do que seus irmãos sírios, mesmo que apenas 1,6% da população da China siga essa religião, contra 92% da Síria. Enquanto a taxa de fecundidade das europeias está em 1,5, entre os muçulmanos do Velho Continente o índice é de 2,2 bebês por mulher.
A bomba demográfica foi derramada nos países ricos. Na Índia, no mundo árabe e na África, as taxas de natalidade ainda são elevadas. As nigerianas têm em média 5,6 filhos (4).
O SER RELIGIOSO
“As religiões são a expressão das eternas e indestrutíveis necessidades metafísicas da natureza humana. Sua grandeza reside na sua capacidade ultra-sensorial de complementação sobrenatural do ser humano e de representação de tudo aquilo que o ser humano não pode dar a si mesmo” (5).
Jacob Burckhardt (1818 – 1897) - Historiador Suíço
Sobre a raça humano podemos afirmar uma coisa com categoria: ela é tremendamente religiosa.
Cerca de 98 por cento das manifestações religiosas do mundo encontram-se distribuídos entre vinte e duas religiões diferentes, incluindo a religião do secularismo. Porém, da população mundial. Estima-se que o Cristianismo, o Islamismo, Hinduísmo e o Budismo tenham perto de 5 bilhões de membros (6).
A partir de 31 de outubro, de acordo com a previsão das Nações Unidas, seremos 7 bilhões. Será que o fator religioso vai contribuir para 7 bilhões de pessoas vivam na santa paz? Segundo Tony Blair, “A fé religiosa e como isso afeta a sociedade vai ser a grande questão no século XXI. As ideologias culturais ou religiosas terão de aprender a conviver, ou haverá conflitos”. Para o célebre professor de ética Social, no Seminário da União Teológica de Nova Iorque, Dr. Roger Shinn afirma: “As guerras religiosas tendem a ser especialmente violentas. Quando as pessoas lutam por território em busca de vantagens econômicas, elas chegam ao ponto em que a batalha não compensa o custo e, assim, fazem concessões. Quando a causa é religião, a concessão e a conciliação parecem ser males”.
A questão religiosa sempre será discutida com mais ardor e persistência do que as questões políticas, econômicas, sociais, artísticas e culturais. O avanço religioso não perde para o progresso da ciência e nem para novas descobertas tecnológicas. Haja vista a contínua crença no zodíaco, carma, comunicação com os mortos e idolatria. Estima-se que 70% das pessoas no Ocidente leiam seu horóscopo.
O fenômeno religioso ultrapassa os tratados científicos por sua epistemologia transcendental. A fenomenologia religiosa tem características terrinas e dimensão abissal contemplativa. O ser religioso pode muito bem viver numa mente racionalista, técnica e espiritualizada; misteriosa e mística. Dentro desse contexto o ser humano realiza obras caridosas e atos catastróficos.
BRUTALIDADE E CARIDADE
“Os homens jamais praticam o mal tão completa e alegremente como quando o fazem por convicção religiosa”.
Blaise Pascal (1623 – 1662) - Matemático e Filósofo Francês
A História Universal registra as terríveis brutalidades cometidas em nome da religião e de Deus. No altar de muitas religiões a oferenda sacrificada foi o próprio ser humano. Para muitos os conflitos religiosos apagam o amor radicalmente. Outros ficam indiferentes e ateus. Seres hipócritas usam a religião para seu poder social, político e econômico. Usa o fator sagrado para o bem próprio em detrimento da derrota e humilhação do próximo. Daí as guerras, massacres, terrorismos, pobreza e fome.
De todas as formas de fundamentalismo, o religioso é o mais cruel. Não existe negociata com a intolerância religiosa. O fanatismo religioso é consistente, progressivo, contaminador e destruidor. O fanático construído pela religião passa para os seus como heróis, mártir e santo.
O escritor israelense e Prêmio Nobel da Paz, Amon Oz, chamou o fanatismo de “gene do mal”. A boçalidade do fanatismo é um mal sem fim. Na verdade, todo ser religioso boçal é fanático. Todo o extremismo é perigoso e sem piedade. Não há misericórdia para sacrificar o inimigo. Para o fanático, matar é fazer o bem para sua alma, agradar o seu “Ser Superior”, ganhar promoção na crença e garantir o “Paraíso”.
O interior do ser humano é um campo de batalha entre o bem e o mal. E a religião tem munições para ambos. A força que existe no coração do ser humano para fazer obras heroicas pode ser a mesma para fazer o mal.
São tantas as religiões num mundo globalizado e virtual que fica cada vez menor por causa dos meios mais rápidos de locomoção e de comunicação, o impacto da pluralidade religiosa é sentido mundialmente, quer gostemos disso, quer não. O fator religioso marca tremendamente a vida das pessoas no Planeta. Daí os erros fatais dos “profetas” que vaticinaram a decadência ou o fim da religião. De uma forma, ou de outra, o ser humano pratica sua religião tem que conviver com o triunfo dela até o fim da humanidade.
CONCLUSÃO
Jesus Cristo é o Príncipe da Paz (Is 9,6). Ele deixou para nós a missão de anunciar o Reino de Deus (Lc 9, 60). O anúncio do Reino é amor, paz, justiça e salvação.
No desencadeamento da Segunda Guerra Mundial, a 24 de agosto de 1939, o Papa Pio XII dirigiu ao mundo um apelo de imploração: “Nada se perde com a paz. Tudo pode ser perdido com guerra” (7).
“O mundo tem necessidade de Deus; tem necessidade de valores éticos e espirituais, universais e compartilhados, e a religião pode oferecer uma contribuição preciosa na sua busca, para a construção de uma ordem social justa e pacífica a nível nacional e internacional. A paz é um dom de Deus e, ao mesmo tempo, um projeto a realizar, nunca totalmente cumprido. Uma sociedade reconciliada com Deus está mais perto da paz, que não é simples ausência de guerra, nem mero fruto do predomínio militar ou econômico, e menos ainda de astúcias enganadores ou de hábeis manipulações. Pelo contrário, a paz é o resultado de um processo de purificação e elevação cultural, moral e espiritual de cada pessoa e povo, no qual a dignidade humana é plenamente respeitada”, exorta o Papa Bento XVI (8).
O sentido real da religião é o supremo bem para o ser humano. É ligar à pessoa a bondade absoluta. É fazer que toda a simbiose esteja a favor do bem – estar total da dignidade da pessoa humana. É o híbrido do imanente e transcendente na dimensão da alma para iluminação da comunhão com Deus e o próximo.
A fome do sagrado que existe no ser humano deve ser alimentada monumentalmente para si e para a paz mundial.
Os verdadeiros religiosos são promotores da paz e da justiça. A sua identidade religiosa é mostrada pelo trabalho em prol da caridade radical pela vida humana. A sua crença no Deus de amor flui o amor e a liberdade para misericórdia da humanidade.
O fundamento para a paz e a liberdade é a verdade que faz triunfar o bem para tudo e para todos.
Pe. Inácio José do Vale
Professor de história da Igreja
Especialista em Ciência Social da religião
E-mail: [email protected]
Notas
(1) O Globo, 01/05/2011, p. 46
(2) Veja, 11/05/2011, pp. 14, 97 e 106.
(3) O Globo, 21/05/2011, p. 9.
(4) Época, 06/06/2011, p. 92.
(5) Jacob Burckharolt. Reflexões sobre a história, Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1961, p. 45.
(6) John Ankerberg. John Weldon e Dillon Burrough. As Religiões Mundiais, Porto Alegre: Aclual Edições, 2010, p. 7.
(7) L’osservatore Romeno, 07/ 03/ 2009, p. 10.
(8) Cidade do Vaticano, na quinta-feira, do dia 16 de dezembro de 2010, foi apresentada a mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz (01 de janeiro de 2011), intitulada “Liberdade Religiosa, Caminho Para a Paz”.
www.rainhamaria.com.br