14.06.2011 -
Conversando hoje com uma menina em frente ao colégio, tomei um pouco de consciência do quão agressiva é a doutrinação que muitos pais e professores estão fazendo com nossas crianças. Eu fazia um simples comentário sobre o inferno com um colega de minha sala e uma garota de apenas dez anos se aproximou dizendo que não acreditava que iríamos para algum lugar após nossa morte. Imediatamente me sentei para ouvir um pouco das indagações da mocinha. Ela se mostrou materialista, pois negava que sobrasse algo nosso após a morte – para ela, esta seria o fim definitivo da existência. “Em que você acredita, afinal?”, perguntei, ao que ela respondeu: “Na ciência!”
A partir daquele momento tratei de explicar que os fatos escatológicos não podem ser provados em laboratório e que a ciência opera em um campo bem diferente daquele. A menina se foi e eu fiquei assustado com a possibilidade de, no futuro, vivermos cercados de mentes infectadas por um darwinismo antirreligioso e materialista, que considera mentirosa ou ilusória qualquer questão que fuja da alçada da ciência.
Enquanto ainda é possível divulgar pensadores cristãos, deixo aqui algumas reflexões oportuníssimas de G. K. Chesterton sobre o dogma do materialismo. No trecho em questão, ele explica porque milagres são possíveis e porque duvidar deles nada tem a ver com estar do lado da ciência e da razão.
“Quem preferir pode, portanto, chamar minha crença em Deus de meramente mística. Não vale a pena brigar por essa frase. Mas a minha crença de que milagres têm acontecido na história humana não é de modo algum mística: eu acredito com base em provas humanas assim como acredito no descobrimento da América. Nesse ponto há um simples fato lógico que é preciso apenas declarar e esclarecer.”
“Surgiu de algum modo a idéia extraordinária de que os descrentes de milagres os analisam com frieza e justiça, ao passo que os crentes em milagres os aceitam apenas em conexão com algum dogma. O fato é totalmente o contrário. Os que crêem em milagres os aceitam (com ou sem razão) porque têm provas deles. Os que não crêem neles os negam (com ou sem razão) porque têm uma doutrina contra eles. A atitude óbvia, democrática, é acreditar numa velhinha que vende maçãs quando ela dá testemunho de um milagre, exatamente como se acredita numa velhinha que vende maçãs quando ela dá testemunho de um crime. A tendência popular pura e simples é confiar na palavra de um camponês sobre um fantasma exatamente na mesma medida em que se confia na palavra dele acerca do seu senhorio. Sendo um camponês, ele provavelmente terá uma boa dose de saudável agnosticismo acerca das duas coisas. Mesmo assim, seria possível encher o Museu Britânico com testemunhos proferidos por camponeses e oferecidos em favor do fantasma.”
“Quando se trata de testemunho humano, há uma sufocante enxurrada de testemunhos em favor do sobrenatural. Rejeitando-os, você só pode dar a entender uma de duas coisas. Você rejeita a história do camponês sobre o fantasma ou por ele ser camponês, ou por se tratar de uma história de fantasmas. Isto é, ou você nega o princípio fundamental da democracia, ou afirma o princípio fundamental do materialismo — a impossibilidade abstrata de milagres. Você tem todo o direito de agir assim; mas neste caso você é que é dogmatista. Somos nós, os cristãos, que aceitamos todas as provas reais — são vocês, os racionalistas, que refutam as provas reais e são obrigados a fazê-lo pelo seu credo.”
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/