Artigo do Padre José do Vale: Os Discípulos de Emaús


12.05.2011 - Dois discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo iam de Jerusalém para Emaús. A distância era cerca de 11 km. Havia três dias que o Divino Mestre deles tinha sido crucificado. Estavam decepcionados e tristes. Eles creram que o Senhor Jesus era o Messias prometido, o grande libertador. Agora a esperança deles estava morta. O que fazer? Então alguém veio até eles, o próprio Senhor Jesus! Vivo ressuscitado. Mas eles não o reconheceram. Jesus lhes perguntou o motivo de tanta tristeza. E então mostrou o que acabara de acontecer estava predito no Antigo Testamento. Era necessário que o Messias morresse pelos homens antes de ser glorificado nos céus. Ao chegar ao seu destino, os dois discípulos insistiram para que o Viajante ficasse com eles. Durante a ceia, o Senhor Jesus tomou o pão, agradeceu a Deus e o deu aos Seus “hospedes”. Só aí O reconheceram, mas Ele desapareceu diante deles. Já não era o tempo da fé, mas o da vista!
E nós? Sabemos reconhecer Senhor Jesus? Podemos encontrá-lo e nem perceber. Ele vem, vai, age aqui e ali, e não nos damos conta. Por que? Porque não temos uma atitude de fé. Aprendamos, por meio das Escrituras, do partir do pão, do amor e da comunhão conhecer Nosso Senhor Jesus Cristo e a confiar nEle para sempre. Para isso, devemos caminhar pela fé e não pela visão (2 Cor 5,7).

O CAMINHO DE EMAÚS E A SANTA MISSA

“Não se nos abrasava o coração, enquanto Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras” (Lc 24,32)?

A Santa Madre Igreja adotou, para a Santa Missa, a mesma seqüência de abordagem feita por Nosso Senhor Jesus Cristo aos dois apóstolos no caminho de Emaús. Vejamos:

1. Liturgia da Palavra: nesse momento da Missa, Jesus aproxima-se de nós (Lc 24,15) e, através das leituras litúrgicas, nós escutamos a palavra de Deus. É quando nossos corações se abrasam (Lc 24,32) e temos nossas mentes abertas para entender as Escrituras (Lc 24,45), conforme as explicações que nos são dadas pelo sacerdote, durante a homilia (Lc 24,27).
2. Liturgia Eucarística: ao final da Oração Eucarística, o sacerdote parte o pão, tal como fez (Lc 24,30). É nesse momento que nossos olhos, se abrem para reconhecer que o próprio Senhor Jesus que ali está presente (Lc 24,31).
3. Bênção Final: no final da Missa, ao dizer: “Ide em paz, e que o Senhor vos acompanhe”, o sacerdote envia os cristãos para cumprirem, com amor, a vontade do Senhor Jesus, em suas vidas cotidianas (Lc 24,33).

Como vemos, a Santa Missa repete o caminho de Emaús. Nós podemos ir á Missa, pensativos (Lc 24,14) ou preocupados (Lc 24,18), como estavam os dois discípulos, antes de encontrarem Jesus, no caminho de Emaús. Podemos até acompanhar o início de Sua caminhada com certa indiferença no coração (Lc 24,25). Entretanto, após a preparação. Durante os ritos iniciais, a partir da liturgia da palavra, já sentimos Jesus junto de nós, ao ouvirmos sua palavra. A liturgia eucarística, então, nos permite consolidar nossa união com Jesus, ressuscitado e presente diante de nós, e confirma nosso encontro com Ele. Ao final, atendendo á recomendação que nos é dada na Bênção Final, nos devemos ser testemunhas vivas de Jesus, contando a todos o que nos aconteceu durante a Missa, e como reconhecemos Jesus na Eucaristia (Lc 24,25).
Quem ama a Jesus Cristo de fato e de verdade deseja ter Sua companhia o tempo todo. Por isso, se possível vá à missa diariamente. Deixe Jesus ressuscitado abrasar no seu coração. Você tem essa graça a sua disposição. Você é tremendamente amado por Cristo.
São Boaventura afirmou: “A Missa é a obra na qual Deus coloca sob os nossos olhos todo o amor que ele nos teve: é de certo modo, a síntese de todos os benefícios que ele nos fez”. E de modo admirável disse São Leonardo de Porto Maurício: “Uma Santa Missa tem mais valor do que todos os tesouros do mundo”.

CONCLUSÃO

“Levantaram-se imediatamente, voltaram a Jerusalém e encontraram os onze com os outros companheiros, que afirmavam: Realmente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão. Eles, por sua vez, contaram o que acontecera no caminho e como o haviam reconhecido no partir do pão” (Lc 24,33-35).
A experiência e a notícia do ressuscitado são fortes demais para ficar só com as mulheres. O anúncio é tremendamente proclamado (Lc 24,1-10). Imediatamente, sem medir esforços de duas léguas de distância nem a escuridão da hora, regressam a Jerusalém.
A referência do apóstolo Simão Pedro é como testemunha digna de fé, com autoridade para fortalecer a fé na ressurreição aos demais.
O Evangelista São Lucas coloca de forma técnica litúrgica de uma eucarística: bênção, fração e partilha do pão.
Ele vai retomar nos Atos: “Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, á comunhão fraterna, á fração do pão e as orações” (At 2,42).
A verdadeira caminhada acontece com Jesus ao nosso lado e o nosso coração abrasado na Santa Missa.


Pe. Inácio José do Vale
Professor de História da Igreja
Pregador de Retiros Espirituais
Especialista em Ciência Social da Religião
E-mail: [email protected]

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