Depois de 18 anos, um arcebispo visita em segredo os cristãos do Butão


24.03.2011 - Obrigados a rezar nas próprias casas, discriminados nas instituições de ensino e nos serviços públicos e sempre sob estrita vigilância das autoridades, os cristãos crescem em número no Butão.

Dom Thomas Menamparampi, arcebispo de Guwahati (Índia), conta a Asia News sua viagem àquele reino, iniciada no último dia 9 de março e concluída nos últimos dias, onde verificou a situação de católicos e protestantes em nove cidades e vilas do país; descreve a vida das pequenas comunidades cristãs, muitas das quais jamais visitadas por um prelado, e o fervor dos cristãos testemunhas de Cristo, não obstante as arbitrariedades e as proibições do governo.

Dom Menamparampi conseguiu entrar no pequeno reino do Himalaia graças a um programa de formação para jovens butaneses, depois de quase 20 anos de contínuas proibições por parte das autoridades. A última visita às comunidades cristãs ocorreu em 1993. Até o presente as autoridades não permitem a entrada de missionários. O país está nos limites jurisdicionais da Diocese de Darjeeling (Índia), mas o governo proíbe qualquer forma de evangelização, não permite a construção de igrejas e a celebração pública de missas.

Até hoje o único sacerdote admitido no Butão é o Pe. Kinley, jesuíta, que organiza com a permissão do governo programas de formação e instrução para os jovens, embora nos últimos anos alguns sacerdotes consigam periodicamente celebrar missas privadas.

Abaixo a narrativa do arcebispo indiano:

Iniciei minha viagem no último dia 9 de março partindo de Phuntsholing. Estavam comigo três amigos católicos que nos últimos anos estão empenhados na formação dos jovens butaneses. A nossa viagem nos levou às cidades de Geddu, Timphu, Tongsa,Bumthang, Mongar, Tashigang, Kanglung e Sandrup Jongkhar, onde encontramos cerca de trezentos cristãos, que vivem divididos em pequenas comunidades dispersas pelo reino.

Em 11 de março chegamos à capital Timphu, onde celebrei a missa junto aos únicos católicos do lugar, que há décadas se reúnem em silêncio numa pequena sala bem discreta. Recordavam-se ainda de minha última visita ocorrida há mais ou menos 18 anos, quando o Pe. Mackay, SJ, ainda estava trabalhando no Butão. Depois de sua morte, não há mais um único missionário católico no reino.

A comunidade de Timphu é formada por um velho grupo de cristãos que, no passado, encontraram o catolicismo em Darjeeling e permaneceram fiéis por todos estes anos. Por estarem acostumados ao silêncio e à discrição, aprendida sob o regime absolutista do rei Jigme Singye Wangchuck, foram aceitos pelas autoridades, as quais, às vezes, até permitem que alguns estrangeiros se unam a eles na oração.

Todos os outros cristãos presentes no Butão são protestantes de grupos independentes, próximos ao pentecostalismo. Pequenas comunidades de 10 a 20 famílias, frequentemente sem qualquer contato com os outros cristãos da área. Nos últimos meses, a nossa diocese enviou aos vários distritos alguns voluntários dos programas de formação que nos ajudaram a organizar o nosso tour.

Onde quer que estivéssemos, éramos acolhidos com entusiasmo, embora soubessem que éramos católicos e que eu era arcebispo. As longas estradas tortuosas foram extenuantes; para ir de uma vila a outra, gastávamos cerca de sete horas de carro. Mas isto é que tornou especial a nossa visita aos povoados.

De fato, não acreditavam que tivéssemos enfrentado perigos e fadigas nas estradas do Butão somente para encontrá-los e levar-lhes coragem. Muitos não queriam deixar-nos partir.

Nas pequenas vilas, a mais de 2500 metros de altitude, encontrei uma população muito ligada à própria fé e desejosa de conhecer melhor o cristianismo. Não obstante a pouca formação, os pastores amam a Bíblia, a qual guardam com zelo, e têm uma certa familiaridade com os textos. Aqui todos esperam com ânsia a visita de cristãos que possam lhes dar ulteriores instruções.

A impressão que tive é a de viver nos tempos dos Atos dos Apóstolos. Muitos grupos são organizados, mas não gozam de reconhecimento oficial por parte das comunidades protestantes. Outros nos deram a impressão de serem cristãos “mestres de si mesmos” [fai da te], enquanto alguns parecem ainda estar à procura. Todavia experimentamos no meio deles uma sensação de calor, intimidade, confiança, de entusiasmo e de expectativa que nos testemunhou a presença viva do Espírito Santo entre aquela gente.

Estes cristãos se reúnem em casas privadas para orar e, alternadamente, cada família põe à disposição a própria habitação para a reunião. Seu culto é muito simples: cantam hinos, lêem a Bíblia e comentam alguns trechos e terminam com uma oração coletiva. Durante estas reuniões compartilham suas experiências e escutam os testemunhos de outros cristãos. Às vezes convidam os amigos não-cristãos a se unirem a eles. Alguns se convertem, sobretudo se a oração ajuda a curar as doenças.

O que observei é um significativo aumento dos cristãos desde a última visita. Segundo alguns os fiéis são mais de 10 mil e as conversões ocorrem sobretudo entre a comunidade de origem nepalesa, naturalizados butaneses.

De fato, as igrejas evangélicas progrediram no Nepal e estas mudanças influenciaram também a população nepalesa do Butão. Todavia, serão necessários anos para poder interpretar esta tendência. A maior parte dos nepaleses que emigraram para o país provém de um contexto hindu e são cerca de 40% da população.

A etnia dominante [no Butão] é a tibetana de religião budista, que representa cerca de 60% em 800 mil habitantes [as estatísticas oficiais contam cerca de 700 mil habitantes no Butão].

Entre os cristãos a consciência religiosa está em uma fase inicial e a maior parte aceita o cristianismo na sua totalidade, mas não está disposta a seguir os ditames de uma igreja particular. Todavia o seu fervor é grande. O aumento dos cristãos no Nepal – Estado laico desde 2006 – demonstra que com uma maior liberdade religiosa também no Butão os cristãos poderiam ser centenas de milhares. As autoridades são mais tolerantes do que no passado, mas proíbem ainda o culto público e as conversões.

Ainda que não haja perseguição direta, o governo desencoraja as religiões diversas do budismo de vários modos. Em caso de inscrição para concursos escolares e trabalho na administração pública é preciso especificar a própria fé religiosa e, frequentemente, é difícil para os cristão obter uma entrevista, vencer um concurso ou chegar à escola superior. As autoridades têm ainda outros modos menos explícitos, porém mais duros, para pressionar os cristãos. Numa das vilas, contaram-nos que a administração cortou-lhes a eletricidade depois que descobriram a presença de cristãos. Não contentes, as autoridades ordenaram ainda o fim de qualquer atividade religiosa, ameaçando cortar a água e demolir as casas utilizadas como lugares de culto. Em geral, estas medidas tão drásticas ocorrem quando há uma denúncia por parte dos habitantes de religião budista ou hindu.

Não obstante esta situação, não encontrei cristãos preocupados ou desencorajados. Pelo contrário, muitos deles rezam e esperam com ânsia o dia em que o governo aceitará a liberdade de culto também em público. Eles pensam que tratando com gentileza e amor os budistas poderão obter um dia a liberdade religiosa. Alguns grupos de cristãos já estão planejando tranquilamente a construção de igrejas, mas devem estar atentos. De fato, o lobby dos monges budistas ainda é muito poderoso e não perde a ocasião de recordar a supremacia e a importância da cultura budista no Butão.

O conceito de “cultura” é um argumento muito sensível na Ásia. A maior parte das pessoas não sabem fazer distinção entre cultura e religião. Comunicar o cristianismo é possível somente se não se comprometem as várias identidades culturais e infelizmente hoje os cristãos nem sempre alcançam este objetivo. Mas os asiáticos são pessoas muito profundas e mesmo os simples habitantes das vilas estão em condição de julgar o que é e o que não é real, aquilo que enriquece sua identidade e incrementa sua cultura e o que não o faz. O nosso desafio em tais situações é convidar as pessoas a uma reflexão mais profunda sobre a própria identidade, sobre sua missão na terra e o seu destino. No Butão, os jovens são capazes, são desejosos de aprender e acompanham os nossos programas de formação com grande interesse. Estamos procurando criar grupos de fomento que financiem a formação, as competências e a difusão de nossos programas, em nossas viagens nos países da Ásia meridional. Os jovens butaneses merecem esta ajuda e estou seguro de que o seu trabalho será sempre mais fecundo no futuro.

Estas palavras de Isaías (2,2-4) me inspiraram durante estes dias: “Nos últimos dias, o Monte do Templo do Senhor terá os seus fundamentos no mais alto dos montes, e dominará as colinas. Para lá correrão todas as nações. Para lá irão muitos povos, dizendo: «Vinde! Subamos à Montanha do Senhor… para que Ele nos mostre os seus caminhos, e possamos caminhar nas suas veredas»”. Não é sem razão que o Senhor elevou o Himalaia sobre todas as colinas e o fez seu. Devemos discernir os caminhos do Senhor nestas altas montanhas e entre esta gente maravilhosa.

Fonte: Asia News   e   http://www.comshalom.org/blog/carmadelio/

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Nota de  www.rainhamaria.com.br

Diz na Sagrada Escritura:

"Então sereis entregues aos tormentos, matar-vos-ão e sereis por minha causa objeto de ódio para todas as nações". (Mt 24,9)

"Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada?" (Rm 8,35)

"Pois todos os que quiserem viver piedosamente, em Jesus Cristo, terão de sofrer a perseguição". (2Tm 3,12)

"Somos perseguidos, mas não ficamos desamparados. Somos abatidos, mas não somos destruídos". (2Cor 4,9)

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