12.03.2011 - MÁRTIRES PELA FÉ
Ha poucos dias festejamos estas duas santas. Um pouco de sua história:
Santa Felicidade e Perpétua com seus companheiros mártires
Escrito por François Sanchez
Extraído do Jornal Stella Maris – fevereiro de 2011 – nº 477
Recentemente, uma senhora me perguntou: “Conhece Santa Perpétua? “Sim, respondi, é uma mártir”.
E ela continuou: “É que tive um sonho que muito me impressionou. Vi uma mulher tendo a seus pés um balde cheio de sangue. Ela me disse: Sou Santa Perpétua”. Este sonho me causou uma grande emoção e estou ainda bastante impressionada”.
Para satisfazer aquela pessoa consultei meu Missal e encontrei ali nas páginas, do dia 7 de março, a festa das santas Perpétua e Felicidade, mártires.
Depois encontrei na “Vida dos Santos” do Padre Girey, corrigido e completado por M. Paul Guerin, Edição 1865.
Penso que os leitores de STELLA MARIS estarão também interessados no que foi comunicado para aquela senhora.
No ano 203 sob o Império de Severo, por ordem do Imperador, Perpétua e seus amigos foram detidos.
Possuímos a narrativa de seu martírio iniciada por Perpétua, depois continuada pelo seu irmão Saturo e terminada por testemunhas oculares. É Perpétua que começa sua narrativa que nós resumimos:
“Nós estávamos ainda com nossos perseguidores quando meu pai veio fazer novos esforços para me enfraquecer.
Mas, ele se contentou somente em me maltratar, retirando-se confuso por não ter podido vencer minha resolução. Nós fomos batizados. Ao sair da água, o Espírito Santo me inspirou a pedir só paciência, nos tormentos”.
Horrores da prisão
Fomos conduzidos à prisão. Sufocava-se tanto ali, estávamos exprimidos.
Experimentávamos a todo momento, a insolência dos soldados que nos guardavam.
O que me causava sofrimento extremo era que eu não tinha meu filho.
Cada um pensava no que o aguardava. Enfim, trouxeram meu filho e eu lhe dei de mamar, pois estava fraco, desnutrido pelo longo tempo sem mamar.
Um dia, meu irmão me disse:
“Estou persuadido de que vocês tem poder junto de Deus. Peçam a Ele, por favor, para que nos faça conhecer, numa visão se vocês vão sofrer a morte ou serão levados de volta”.
Eu respondi cheia de confiança:
“Amanhã sabereis o que será”.
E me dirigindo a Deus, eis a visão que eu tive: percebi uma escada de altura prodigiosa, mas tão estreita que só era possível subir um de cada vez.
Os dois lados tinham espada, espinhos, ceifadeiras, foices, punhais, ferros largos e lanças, de modo que sem ter que olhar para o alto, não se podia evitar ser dilacerado.
Ao pé da escada havia um dragão assustador.
Saturo subiu primeiro. Ele veio se tornar prisioneiro com plena vontade, querendo passar pelo nosso infortúnio, pois, ele não estava junto, quando nós fomos detidos.
Felizmente, chegando ao alto da escada, ele se voltou para mim e disse para ter cuidado com o dragão.
Eu lhe respondi que ia subir em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Então, o dragão virou calmamente a cabeça que me serviu de primeiro degrau.
Chegando ao alto da escada eu me encontrava num jardim espaçoso onde vi um pastor. Havia um rebanho de ovelhas e uma multidão de pessoas vestidas de branco que o cercava.
Chamando-me pelo meu nome, ele me desejava as boas vindas e me deu leite que ele tirava: o leite era bastante espesso, como uma espécie de coalhada. Recebi e comi. Todos aqueles que estavam presentes responderam: Amém. Eu me acordei e notei que tinha na boca não sei o que muito doce que eu comera. Quando vi meu irmão, eu lhe contei o sonho e nós concluímos que devíamos sofrer o martírio”.
Seu pai voltou à carga no interrogatório e condenação.
“Ao final de alguns dias, vi chegar meu pai: a dor e uma tristeza mortal o consumiam. Confesso que eu estava penetrada de viva dor quando considerava que meu pai seria o único que não tiraria nenhuma vantagem com minha morte. Um dia, vieram nos buscar para o interrogatório. Fizeram-nos subir para uma espécie de teatro onde o juiz tinha seu tribunal.
Todos aqueles que responderam antes de mim, confessaram em alta voz Jesus Cristo. O juiz pronunciou a sentença, pela qual nós todos éramos condenados às feras.
Após ter ouvido a leitura eu pedi meu filho a meu pai que não queria me entregar e Deus permitiu que a criança não quisesse mais mamar e eu não fui incomodada com meu leite. (entendemos aqui que o leite secou)
Nós ficamos presos até o dia em que devíamos ser expostos às feras.
Decorridos alguns dias, aquele que comandava os guardas da prisão, percebendo que Deus nos favorecia com vários dons, sentiu uma tão grande estima por nós que deixava entrar livremente os irmãos que vinham nos ver para nos consolar e receber eles mesmos, a consolação.
Poucos dias antes dos espetáculos vi entrar meu pai onde estávamos.
Ele arrancava a barba, jogava-se por terra dando mil maldições ao dia em que nascera. Derramava lágrimas e fazia partir o coração de compaixão e fazia partir o coração de compaixão naqueles que o ouviam.
Eu morria de dor, vendo-o naquele lamentável estado.
Nova visão de seus combates e seu triunfo
“Na véspera dos espetáculos, tive uma ultima visão. O diácono Pompone vestido de branco me conduziu ao anfiteatro até o meio do lugar. Como eu sabia estar exposta às feras, não compreendia porque diferenciavam largá-las contra mim.
Então, apareceu um egípcio extremamente pesado que avançou para mim, com vários outros tão disformes quanto ele e se apresentou ao combate. Mas, ao mesmo tempo, as pessoas jovens, perfeitamente bem se declararam a meu favor.
Tiraram minha roupa e senti que me tornava uma atleta forte e vigorosa. Aquelas pessoas jovens enfileiradas a meu lado me passaram óleo como se faz antes de entrar meu combate... Nós nos agarramos o egípcio e eu, começando rude combate.
Ele fazia todos os seus esforços para prender meu pé, a fim de me derrubar o que eu evitava cuidadosamente dando-lhe vários golpes no rosto.
Eu me senti levantada no ar de onde batia meu inimigo com vantagem. Enfim, vendo que o combate cansava, juntei minhas duas mãos deixando-as cair sobre a cabeça do egípcio. Eu o derrubei sobre a arena, colocando o pé sobre a cabeça como para esmagá-lo.
O povo bateu palmas e meus generosos defensores juntaram a doçura de seus cantos aos aplausos do povo.
Eu sai do anfiteatro. Lá, meu sonho acabou e acordei pensando que iria combater, não as bestas, mas, os demônios. O que me consolou é que a visão que me mostrava o combate me assegurava ao mesmo tempo, a vitória”.
“Escrevi o que me aconteceu até o dia dos espetáculos. Se alguém quer continuar a narrativa pode fazer”.
Narrativa de Saturo
Saturo teve também uma visão que ele relata nestes termos:
“Havia algum tempo que estávamos prisioneiros quando quatro Anjos nos elevaram. Nós subimos como se seguíssemos a inclinação de uma colina. Quando nos afastamos da terra, nós nos encontramos cercados de uma grande luz.
Eu disse a Perpétua que estava perto de mim: “Minha irmã, eis o que o Senhor nos havia prometido”.
Depois de ter caminhado, nós encontramos um jardim cheio de toda espécie de flores.
Quatro Anjos mais brilhantes que aqueles que nos tinham trazidos, vieram até nós com mil gentilezas. Diziam aos nossos condutores com admiração: “Eis que chegaram!”
Nós começamos a caminhar a pé naqueles vastos e deliciosos canteiros de flores. Ali encontramos Jocond, Saturnino e Artaxe, os três tenham sido queimados vivos pela Fé e Quintus morto na prisão pela mesma causa.
E como nós perguntamos onde estavam os outros mártires nossos conhecidos, os Anjos disseram: “Entremos e saudemos o Mestre deste Jardim”.
Fizeram-nos entrar no mais soberbo apartamento que se pode ver.
As tapeçarias cobriam as paredes feitas de luz que brilhavam como se tivesse sido feitas de diamantes.
No vestíbulo, quanto Anjos nos fizeram vestir uma roupa branca.
O cômodo onde fomos introduzidos era mais rico e mais brilhante que todos aqueles que havíamos atravessado.
Ouvíamos vozes dizendo juntas:
Santo, Santo, Santo, que repetiam sem cessar. No meio do quarto, vimos um homem de excelente beleza. Tinha cabelos longos da cor de um cisne, caindo sobre os ombros em grandes cachos. Nós não pudemos ver seus pés. Ele tinha à direita e à esquerda, 24 velhos, sentados em tronos de ouro e atrás dEle várias pessoas em pé.
Os quatro Anjos nos fizeram aproximar do trono e nos levantaram suavemente, facilitando o acesso junto da pessoa, aquele admirável moço que nos fez a honra de nos abraçar.
Os velhos nos disseram primeiro, para ficar. Depois, disseram que podíamos ir aonde nos parecia bom e nos divertir de mil maneiras com os jogos que eles praticavam naquela agradável moradia.
Então, voltando-me para Perpétua eu lhe disse: “Minha irmã, você está contente?” “Sim, graças ao Senhor”.
Sinto um fundo de alegria que não posso exprimir”.
Saímos e encontramos o bispo Optat e Aspásio padre de nossa igreja, muito tristes e afastados um do outro, alguns passos.
Vieram se jogar a nossos pés, dizendo: “Por favor, colocai-nos de acordo”.
Nós lhe respondemos espantados:
“Não sois vós, nosso bispo e um padre do Senhor? Como sofreis a nossos pés?”
E ao mesmo tempo, nós nos lançamos a eles, abraçando-os com respeito e ternura.
Perpétua conversou com eles e fomos pelo jardim. Mas vieram os Anjos que disseram a Optat e Aspásio: “Deixai-os se alegrar em liberdade.
Eles não tem nada com nossas divisões. Vós, bispo, corrigi vossos diocesanos, pois só há contestações entre eles, tanto eles parecem animados uns contra os outros”.
Os Anjos fizeram semblante de querer fechar sobre eles a porta do jardim.
Por nós, passaríamos nosso tempo naquela feliz moradia, vivendo com perfumes. Eis meu sonho”.
Oração dos mártires
Falemos agora de Felicidade.
Ela estava grávida. O dia dos espetáculos se aproximava. Ela estava inconsolável, prevendo que sua gestação de 8 meses faria diferenciar o martírio. Ela se afligia e os outros mártires com ela. Eles se juntavam para obter da bondade de Deus que Felicidade pudesse se libertar antes do dia do combate.
Foram atendidos, pois, apenas tinham eles acabado a oração quando ela começou a sentir as dores do parto.
Sofria muito e a violência do mal a fazia gritar de tempos em tempos. O guarda disse: “Se vós lamentais agora, que será quando fordes dilacerada pelas feras?”
Ao que ela respondeu: “Agora sou eu que sofro, mas, haverá um outro que estará comigo e sofrerá por mim, porque eu sofrerei por Ele”.
Cada um obtém o suplicio pedido. Surgiu o dia que devia iluminar o triunfo de nossos gênerosos atletas. Saíram da prisão.
A alegria estampada no rosto deles, brilhava nos seus olhos, aparecia nos seus gestos, manifestava-se nas suas palavras.
Perpétua caminhava atrás, os olhos baixos. Felicidade exprimia a alegria que sentia por seu feliz parto lhe permitir combater tão bem como os outros.
Perpétua cantava, pensando no egípcio, cujo final lhe havia sido predito.
Renovat, Saturnino e Saturo ameaçavam o povo com o gesto e a voz. O povo irritado com aquela audácia pediu que fossem chicoteados. Nossos santos se alegraram por serem tratados como Jesus Cristo seu Deus e Mestre.
Foram afligidos por diversos suplícios. Uns desejavam morrer de um jeito, outros de maneira diversa.
Saturnino desejava combater contra as feras. Obteve o que desejava, pois, ele e Renovat depois de haver sido presos com um leopardo, foram ainda atacados por um urso furioso, que os atormentou e os deixou rasgados. Saturo não temia nada como ser exposto a um urso e teria desejado que um leopardo lhe tirasse a vida num primeiro golpe de dente. Entretanto, deixaram-no sangrar, mas a fera voltando-se contra o soldado que o conduzia, abriu-lhe o ventre com suas garras. Depois, voltando-se sobre Saturo, contentou-se em arrastá-lo sobre a arena.
Depois, levado para perto de um urso, não puderam obrigá-lo a sair da sua jaula. Assim, Saturo entrou no combate e saiu sem ferida.
Presos por uma vaca furiosa
Destinaram uma vaca furiosa contra Perpétua e Felicidade.
Fecharam as duas despidas, numa rede. Mas, o povo ficou tocado de horror e de piedade. Fizeram uma barreira para lhes permitir retomar suas roupas. Perpétua avançou. Logo, a vaca investiu, levantou-se e a deixou cair sobre os rins. Voltando, a si e percebendo que seu vestido estava rasgado ao longo da coxa, ela juntou prontamente o tecido, menos ocupada com as dores do que o pudor que podia ser ferido.
Levantando-se ela arrumou os cabelos, depois, percebendo Felicidade estendida sobre a areia, correu para ela e ajudou-a a se levantar.
Elas se apresentaram ainda para sustentar novo ataque, mas, o povo não quis mais que as expusessem.
Saindo da arena, Perpétua estando como despertada de profundo sono perguntou quando as livrariam daquela vaca furiosa.
E quando lhe contaram o que aconteceu, ela não queria acreditar até que reconhecendo a catecúmena Rustique e vendo as roupas rasgadas, seus ferimentos, começou a crer.
Então, dirigindo-se a seu irmão e a Rustique disse: “Perseverai na fé, amai-vos uns aos outros, não fiqueis escandalizados com meus sofrimentos”.
Martírio de Saturo e dos outros
Saturo embaixo de um pórtico do anfiteatro, dizia a Pudens:
“Não lhe disse que as feras não me fariam nenhum mal?
Creia com todo seu coração, Naquele que eu creio. Volto para receber a morte. Um leopardo deve me pegar”.
No final dos espetáculos, um leopardo se jogou sobre ele e com um golpe de dente fez uma larga ferida, de onde o sangue saia em rios.
O povo gritava: “Batizado pela segunda vez”.
Então, voltando os olhos para Pudens “Adeus, caro amigo, lembrai-vos de minha fé e imitai-a. Que minha morte vos encoraje a sofrer”.
Em seguida, tirando do seu dedo um anel, molhou no seu sangue e lhe deu dizendo: “Receba em sinal de amizade. Que o sangue vermelho vos lembre que eu derramo hoje por Jesus Cristo”.
Depois, ele foi transportado ao lugar onde se encontravam aqueles que não estavam mortos ainda.
Os outros mártires que estavam feridos se levantaram para recebê-lo e se abraçaram para selar seu martírio. Eles seguiram para onde o povo pedia. Receberam a morte sem fazer o menor movimento, deixar escapar um lamento, nem mesmo um suspiro.
Saturo foi o primeiro a expirar.
Perpétua a segunda (conforme a visão da escada misteriosa). Caída entre as mãos de um gladiador desajeitado, foi constrangida a dirigir ela mesma até sua garganta a espada para marcar o lugar onde devia afundá-la.
Quanto às relíquias, foram levadas à igreja de Cartago e mais tarde, o corpo de Perpétua foi para a França até a Abadia de São Pedro de Vierzon onde, em 1632, com a peste, cessou a procissão com seu relicário através das ruas da cidade.
O corpo de santa Perpétua foi queimado pelos revolucionários em 1793. Somente uma parte do crânio foi conservada na igreja de Vierzon.
Tradução Livre
Izabel dos Santos Koscianski
Caixa Postal: 30
CEP: 87.600-000
Nova Esperança – PR
Telefone: (44) 3252 – 4479e-mail: [email protected]