Artigo de Ian Farias: Rasgai os vossos corações


09.03.2011 - Após um longo período sem redigir nenhum artigo, aos poucos vou me estabilizando aqui no Seminário e o tempo vai se conciliando.

Mais uma vez somos convidados pela Igreja ao tempo quaresmal. Neste período faz-se ecoar em nosso coração o clamor do Senhor: “Voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo” (Joel 2, 12-13). Deter-me-ei primeiramente nesta profecia para melhor adentrarmos ao mistério celebrado.

Como, neste dia de cinzas e início de quaresma, poderemos nos esvaziar de qualquer sentimento de engrandecimento e prepotência e rasgarmos o coração? Como poderemos mostrar a outros que o que realmente Deus olha é o coração e não o exterior? Primeiramente tenhamos em mente que é necessário testemunharmos. É preciso que o cristão seja uma testemunha veemente do evangelho. Nada mais nos pede o Senhor, senão que rasguemos os corações. E por que nos pede que rasguemos o coração e não as vestes? Por que as vestes se rasgam mas não se vê o coração, e o coração rasgado, ainda que não se rasguem as vestes, pode ser visto. A ascese neste período constitui algo fundamental na experiência da humildade cristã e nos faz reconhecer que nada somos, mas Deus é tudo e Ele tudo pode.

É triste vermos, pois, que a nossa sociedade não mais quer voltar-se à Deus, senão aos prazeres e efemeridades que este mundo oferece. O mundo necessita de Deus! Deus está próximo do mundo, mas o mundo não quer estar próximo dEle. Ainda clamamos, em comunhão com toda a Igreja: O Senhor quer perdoar-vos! Ele é um Deus amoroso! Achegai-vos a Ele! É sabido que ninguém pode resistir sem Deus. Qualquer sociedade sem Deus jamais, por si só, ficará de pé. É Deus quem sustenta todos os homens, e os fortalece em sua caminhada. Quando parecemos estar sós, quando parecemos desesperançados, Deus nos estende a mão, manifesta sua misericórdia e nos convida a levantar novamente. Não estamos sós nestas provações, estamos com Deus! Não rasguemos as vestes pois elas não demonstram o que somos, rasguemos o coração, para que vendo o nosso amor outros também o façam.

Neste sentido as cinzas, impostas hoje em nossa cabeça pelos sacerdotes, demonstram o que somos: pó, e é ao pó que retornaremos. Nada somos! Somos criados à imagem e semelhança de Deus. Não fisicamente nos assemelhamos a Ele, mas o nosso espírito deve ser semelhante. Que semelhança a criatura pode ter com o que Lhe fez? O amor! O amor nos assemelha a Deus. Um amor que deve ser incondicional. E ponho-me muitas vezes a perguntar para que apegar-se tanto aos bens materiais? Para que arrogância e prepotência? Para que se fechar à sempre nova mensagem do Evangelho? Nossa vida assemelha-se a um sopro. Que seja sopro do Espírito Santo, e não das frivolidades que tentam impor-se em nossa cultura.

Na segunda leitura Paulo convida-nos a reconciliarmo-nos com Deus. Eis o momento propício para que o mundo se volte a Ele. Voltemo-nos hoje! Agora! Deixai de lado a mediocridade que levais em vossas vidas. “’No momento favorável, eu te ouvi e, no dia da salvação, eu te socorri’. É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (2Cor 6,2). Este clamor de Paulo, perpassados dois mil anos, convida-nos a deixar de lado este velho homem. Deixai de lado a vida laxa que levais! Cristo está a bater na porta e vós não escutais. E aqui escutamos as palavras do apóstolo refletidas pelo Santo Padre Bento XVI na sua mensagem para a Quaresma deste ano: “Sepultados com Ele no batismo, foi também com Ele que ressuscitastes” (cf. Cl 2, 12).

Ó! Mundo incrédulo, quando ireis abrir-vos a Deus? Quando ireis parar de crucificar novamente o nosso Salvador? Quando escutareis o clamor do Senhor que sempre está chamar-vos pelo nome? Hoje vo-los convido, irmãos, a mudarem de vida. Despi-vos do que era velho, o Senhor nos traz o que é novo. A cada Quaresma, preparando-nos para a Semana Santa, o Senhor faz-nos recordar a sua constante fidelidade e a sua maior prova de amor: a doação de seu Filho único. E creiam meus irmãos: nada é maior e nenhuma prova de amor maior podemos esperar do que esta grande e humilde atitude de Deus.

O mundo deixou-se contaminar pelo veneno de Satanás! Ele está procurando afastar-nos de Deus para nos atrair aos seus desejos, e admitamos que ele está a conseguir. E aqui o nosso Cristianismo deve fazer-se presente. Devemos fazer com que o próximo veja em nós o rosto de Cristo, sempre presente e acolhedor. Nossa Igreja não pode fundamentar-se em leis se em primeiro lugar a caridade não se fizer presente, pois do contrário será endurecida. A Igreja deve ter leis, deve prezar pelas alfaias e pela liturgia, mas se não prezar pela caridade perderá toda a sua fundamentação e o demais será vazio.

Não seja o que disse até aqui visto de forma passiva. E se for, minha mensagem não surtirá efeito. Pois se o que aqui disse for aceito por todos então não é o Evangelho que prego. É necessário que as reações contrárias sejam aqui manifestadas, pois Jesus vem não para agradar, mas para ferir com a sua palavra os corações endurecidos e que insistem em enveredar pelas sombras da morte.

Que nesta Quaresma estejamos voltados para o Cristo e que assumamos a conversão de vida para a qual todos somos chamados.  E, se o mundo vos disse que não é de grande valia as penitências e mortificações, aproximai-vos, contritos e humildes, das mesmas, oferecendo-as pelos pecadores que não reconhecem a misericórdia de Deus. Que Maria Santíssima interceda por nós e nos faça fieis ao projeto salvífico-redentor de Seu Filho.

Santa Quaresma a todos!

Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/


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