Quem encontra Deus encontra tudo, quem perde Deus perde tudo


23.02.2011 - São Roberto Bellarmino desempenhou um papel importante na Igreja nos últimos decênios do século XVI e nos primeiros do século sucessivo. As suas Controversiae constituíram um ponto de referência, ainda válido, para a eclesiologia católica sobre questões acerca da revelação, a natureza da Igreja, os Sacramentos e a antropologia teológica. Nesses, aparece acentuado o aspecto institucional da Igreja, motivado por erros que então circulavam sobre tais questões. Todavia, Bellarmino esclareceu também os aspectos invisíveis da Igreja como Corpo Místico e ilustrou-o com a analogia do corpo e da alma, a fim de descrever a relação entre as riquezas interiores da Igreja e os aspectos exteriores que as tornam perceptíveis. Nessa obra monumental, que busca sistematizar as várias controvérsias teológicas da época, ele evita todo o enfoque polêmico e agressivo nos confrontos com as ideias da Reforma, mas, utilizando os argumentos da razão e da Tradição da Igreja, ilustra de modo claro e eficaz a doutrina católica.

No seu livro De ascensione mentis in Deum – Elevação da mente a Deus – composto sobre o esquema do Itinerarium de São Boaventura, exclama: “Ó alma, o teu exemplo é Deus, beleza infinita, luz sem sombras, esplendor que supera aquele da lua e do sol. Levanta os olhos a Deus, no qual se encontram os arquétipos de todas as coisas, e do qual, como uma fonte de infinita fecundidade, deriva essa variedade quase infinita das coisas. Portanto, deves concluir: quem encontra Deus encontra tudo, quem perde Deus perde tudo”.

Nesse texto, sente-se o eco da célebre contemplatio ad amorem obtineundum – contemplação para obter o amor – dos Exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola. Bellarmino, que vive na pródiga e muitas vezes doente sociedade do fim do século XV e início do XVI, dessa contemplação buscava aplicações práticas e ali projeta a situação da Igreja do seu tempo com viva inspiração pastoral. No livro De arte bene moriendi – a arte de morrer bem – por exemplo, indica como norma segura do bom viver, e também do bom morrer, o meditar frequentemente e seriamente que se deverá prestar contas a Deus das próprias ações e do próprio modo de viver, bem como não buscar acumular riquezas nesta terra, mas viver de modo simples e com caridade, de modo a acumular bens no Céu. No livro De gemitu columbae – o gemido da pomba, onde a pomba representa a Igreja – exorta com força ao clero e a todos os fiéis a uma reforma pessoal e concreta da própria vida seguindo aquilo que ensinam a Sagrada Escritura e os Santos, entre os quais cita, particularmente, São Gregório Nazianzeno, São João Crisóstomo, São Jerônimo e Santo Agostinho, além dos grandes Fundadores de Ordens Religiosas, como São Bento, São Domingos e São Francisco. Bellarmino ensina com grande clareza e com exemplo da sua vida que não se pode exercer verdadeira reforma da Igreja se antes não há reforma pessoal e a conversão do nosso coração.

Excerto da catequese de hoje do Papa Bento XVI sobre S. Roberto Bellarmino

Fonte: http://fratresinunum.com/


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