29.08.2010 - Pode parecer absurdo, mas a entidade assegura que eles são mais nutritivos e baratos - e ainda podem ser a solução para a crescente demanda por carne.
O futuro da alimentação pode estar nas mãos – ou melhor, nas patas e asas – dos insetos. Esses invertebrados, normalmente associados à sujeira e ao lixo, têm agora a chancela para consumo da FAO, organização para alimentação e agricultura da ONU. O órgão já realizou um encontro sobre o tema em 2008, na Tailândia, e planeja um novo congresso, mais amplo, em 2013. O motivo é simples e urgente. As criações de bois, porcos e cabras ocupam dois terços das terras que podem produzir alimento no mundo. Além disso, o gado é responsável pela emissão de 20% dos gases do efeito estufa. Segundo estimativas, em 20 anos o consumo anual de carne vai saltar de 50 para 80 quilos por pessoa.
“Insetos são muito mais eficientes do que gado”, disse à ISTOÉ Arnold van Huis, autor do estudo chancelado pela FAO e especialista em insetos da Universidade Wageningen (Holanda). Ele explica que, enquanto são necessários dez quilos de grãos para obter um de carne de vaca, a mesma quantidade de insetos demanda apenas 1,5 quilo de ração. Vários estudos indicam ainda que os pequenos animais contêm os mesmos nutrientes encontrados na carne de boi, porco, aves e peixes. “A diferença é que alguns insetos têm o dobro de proteínas”, afirma Eraldo Medeiros Costa Neto, pesquisador da Universidade Estadual de Feira de Santana, na Bahia.
Segundo o brasileiro, o hábito de comer insetos é comum em mais de 120 países. Grilos, gafanhotos e larvas de diversas espécies são iguarias em países asiáticos e da África. Em restaurantes de Londres, Paris e Tóquio, eles compõem pratos sofisticados. No Brasil, vários grupos consomem larvas e bichos adultos. No semiárido baiano, por exemplo, a farofa de tanajuras fritas é um prato típico. Como qualquer alimento, os insetos exigem certos cuidados. Nem todos podem ser comidos, pois são venenosos ou contêm outras substâncias tóxicas. Mesmo assim, 1,5 mil espécies comestíveis existem no mundo. Afinal, eles não são tão estranhos assim. Basta lembrar que Marco Polo comeu gafanhotos em sua viagem à China.
Fonte: Revista ISTOÉ, agosto 2010
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Nota de www.rainhamaria.com.br
Pesquisa revela que mudança climática vai piorar fome
01.02.2008 - A mudança climática prejudicará nos próximos 20 anos a produtividade de culturas importantes para a alimentação humana em algumas das áreas mais pobres do mundo, segundo estudo de pesquisadores do Programa de Segurança Alimentar e Meio Ambiente da Universidade Stanford (EUA). O trabalho, coordenado por David Lobell, foi publicado nesta semana pela revista Science.
Os autores apresentam o artigo como um guia para governos e organizações internacionais direcionarem investimentos na adaptação da produção agrícola à mudança climática. Os pesquisadores focalizaram 12 regiões onde, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), vive a maior parte da população desnutrida do mundo. As áreas abrangem grande parte da Ásia, a África Subsaariana, o Caribe, a América Central e do Sul e têm 825 milhões de pessoas desnutridas, 95% do total mundial.
Os autores analisaram 20 modelos teóricos sobre os efeitos do aquecimento global e concluíram que, até 2030, a temperatura média na maioria dessas regiões terá aumentado 1°C, enquanto as chuvas sazonais em alguns locais, como sul da Ásia, sul da África e Brasil, poderão diminuir. A redução mais intensa de chuvas é prevista para o sul da África, chegando a 10% em 2030.
A análise revelou duas zonas críticas: sul da Ásia e sul da África. A principal cultura do sul da África, o milho, com um HIR "muito importante", poderá sofrer perdas de mais de 30% nas próximas duas décadas. No caso do Brasil, as maiores perdas previstas, de 15%, afetariam as culturas de trigo e soja. Isso ocorreria no mesmo prazo, mas com probabilidade bem menor que no caso africano. As duas culturas, no caso brasileiro, foram classificadas com HIR "menos importante". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo
Fonte: Terra notícias
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Lembrando...
Profecia de catástrofe alimentar ainda pode se realizar
30.12.2007 - Fatos extraordinários estão acontecendo no mercado mundial de alimentos. O preço do trigo, da soja, do milho e de laticínios mais que duplicou nos últimos anos, enquanto a demanda superou a oferta pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial. Por quê? A população mundial está crescendo, mas não em um ritmo acelerado. No entanto, milhões de pessoas pobres, especialmente na China, hoje podem comprar carne, e a produção de proteína animal exige muito mais insumos por quilo do que a de vegetais. O cidadão chinês médio come 30% mais carne hoje do que cinco anos atrás. Em segundo lugar, houve uma série de colheitas fracas ao redor do mundo. E terceiro, muitos países ocidentais estão subsidiando os agricultores para trocar o plantio de alimentos por colheitas de energia renovável.
Mais de 200 anos atrás, o demógrafo e economista político britânico Thomas Malthus afirmou que a população superaria a oferta de alimento e que se não houvesse limites rígidos à reprodução humana o mundo rumaria para um desastre. Até agora ele se mostrou totalmente enganado; a população mundial aumentou dez vezes e há menos fome do que em sua época. Mas a população global provavelmente crescerá de 6,5 bilhões para 9 bilhões até 2050, o que exigirá que os agricultores do mundo produzam mais alimento nos próximos 40 anos do que nos últimos 200. As previsões malthusianas estiveram erradas durante 200 anos, mas poderão se mostrar válidas nos próximos 50.
Depois da Segunda Guerra Mundial, os governos europeus readotaram políticas protecionistas para aumentar a produção interna de alimentos. Mais tarde, a Política Agrícola Comum introduziu barreiras protecionistas e grandes subsídios, encorajando os agricultores europeus a produzir muito mais que o necessário. Nos últimos 20 anos, uma série de medidas foram adotadas para reduzir as cotas de produtividade, e há uma "reserva" compulsória para tirar terra arável da produção. Mesmo assim, a produção tendeu a superar a demanda, deprimindo os preços e reforçando ainda mais os subsídios.
Esse problema foi exacerbado pelo impacto da inovação científica e tecnológica na produtividade agrícola nos últimos 60 anos. A produtividade - por hectare, por vaca leiteira, por porco - triplicou. Os avanços em herbicidas, pesticidas e antibióticos conseguiram controlar a maioria das doenças animais e vegetais e também os predadores. Novas técnicas notáveis por meio de hibridação melhoraram a produtividade de plantas e animais. Aplicações químicas encurtaram e enrijeceram o caule das plantas, permitindo que elas absorvam mais fertilizante e suportem climas inclementes.
A revolução tecnológica foi ainda mais dramática. Depois da guerra, o cavalo ainda era a principal fonte de energia agrícola na Europa. Hoje, são o trator e a colheitadeira mista.
Esses avanços transformaram a produtividade agrícola. Máquinas de alta velocidade resultam em colheitas mais curtas e rápidas, com menos alimento perdido para a intempérie. Uma área maior de terra é usada em agricultura. Ao mesmo tempo, há necessidade de menos pessoas para lidar com esses enormes aumentos de produção. Sessenta anos atrás, uma fazenda arável de 350 hectares podia empregar 40 pessoas. Hoje meu filho administra uma fazenda desse tamanho com apenas mais uma pessoa.
Em conseqüência disso tudo, apesar de a população mundial ter triplicado durante a minha vida, o mundo está mais bem-alimentado do que nunca. Quando ainda ocorre escassez, como na África, a fome surge por causa de fracassos logísticos e políticos. Há alimento disponível, mas ele está no lugar errado.
A população global continuará crescendo. As economias dos países mais pobres também vão prosperar, o que resultará em pessoas mais bem-alimentadas e comendo carne. A demanda por alimentos aumentará entre 50% e 100%, dependendo da escala da mudança de consumo vegetariano para carnívoro. A mudança climática vai distorcer os padrões do tempo com desvantagem para a maioria dos agricultores, mas aqueles no norte temperado e rico poderão se beneficiar. E, finalmente, muitos governos continuam comprometidos com um grande aumento da energia renovável a partir de vegetais.
Nos últimos 200 anos, foi possível suprir as crescentes demandas por alimentos colocando mais terra em produção. Mas hoje estima-se que só existam mais 5% de terra disponível para esse fim. A produção alimentar absorve 70% da chuva que cai sobre o solo. Devido à mudança climática, o suprimento de chuva se tornará mais volátil, com mais enchentes e secas, ambas as quais dificultam a vida dos agricultores.
Se os agricultores do mundo não conseguirem suprir a demanda de alimentos, haverá sérias conseqüências econômicas e políticas. A inflação alimentar poderá ameaçar o crescimento econômico e a escassez alimentar poderia criar instabilidade política no mundo em desenvolvimento. A liberalização do comércio global, que foi um fator chave para reduzir as tensões políticas internacionais, poderá ser revertida se os países decidirem proteger seus suprimentos internos de alimentos. Os países mais pobres poderão se tornar dependentes demais dos alimentos das zonas temperadas mais afluentes, nos EUA e na Europa, o que por sua vez exacerbaria os problemas de escassez de mão-de-obra nessas regiões, resultando em novas migrações polêmicas.
Para evitar essa catástrofe malthusiana, várias coisas precisam acontecer. Como antes, a inovação científica e tecnológica será chave, mas desta vez a tarefa não é cultivar mais terra, e sim melhorar substancialmente a produtividade da terra já cultivada. Mas, no Ocidente, os grupos ambientalistas resistem a essa inovação, notadamente, mas não exclusivamente, com relação às modificações genéticas.
A tese contra o uso irresponsável da ciência e da tecnologia não pode ser facilmente rejeitada, mas nos últimos anos os regulamentos foram reforçados e os cientistas reagiram à preocupação pública. Os ambientalistas devem reconhecer isto e preparar-se para fazer compromissos. A maneira mais rápida de realizar a terrível predição de Malthus seria que o mundo se tornasse totalmente orgânico.
Para que isso não ocorra, nós, como indivíduos, devemos parar de usar energia no ritmo em que o fazemos e de desperdiçar alimentos na medida em que o fazemos. Atualmente, desperdiçamos quase a metade do alimento que produzimos, jogando fora produtos perfeitamente bons em nossas cozinhas, restaurantes e lojas.
A agricultura atingiu um divisor de águas, e se as pessoas continuarem a se comportar de maneira egoísta ou irracional, as previsões malthusianas se realizarão. Prevê-se que depois de 2050 a população mundial deverá se estabilizar ou até declinar. Enquanto isso, devemos confiar na engenhosidade e no bom senso humanos para superarmos as dificuldades.
*Chris Haskins é fazendeiro e ex-presidente da Northern Food, uma indústria de alimentos britânica.
Fonte: UOL notícias