Água será escassa para 290 milhões de habitantes do Mediterrâneo


15.04.2010 - O conflito palestino-israelense bloqueia o acordo sobre os recursos hídricos

A água -um bem cada vez mais escasso em torno do qual gira de forma crescente a geopolítica- pôs novamente em evidência na terça-feira (12) o obstáculo que representa o conflito palestino-israelense para qualquer tentativa de articular políticas comuns entre os países às margens do Mediterrâneo. Os 43 membros da União pelo Mediterrâneo (UpM) - os países da União Europeia e os das margens sul e leste do Mediterrâneo -, reunidos em Barcelona na 4ª Conferência Ministerial Euromediterrânea, não conseguiram aprovar o documento sobre a gestão da água.

Tudo devido a uma simples questão semântica, a que separa o termo "territórios ocupados" de "territórios sob ocupação". Israel insistia na segunda formulação e os países árabes, na primeira. Para desespero dos especialistas que haviam trabalhado no projeto, minuciosamente elaborado, longamente preparado e praticamente consensual, não houve acordo. Como explicou o secretário de Estado do Meio Rural e da Água da Espanha, Josep Puxeu, os 43 países chegaram a um acordo sobre 99% da declaração e da estratégia.

A importância do documento era dupla. De um lado, devido ao alcance do tema: a água, cada vez mais escassa, especialmente na bacia mediterrânea. Por outro, porque se tratava da primeira grande estratégia da UpM, cuja sede em Barcelona foi inaugurada há poucas semanas.

Os recursos hídricos da bacia do Mediterrâneo são escassos, sofrem variações imprevisíveis e são, em grande parte, muito mal administrados. Condições que a mudança climática só faz acentuar. O último relatório da ONU indica que antes de 15 anos 290 milhões de pessoas que vivem nos países ribeirinhos terão seu acesso a água limitado, o que provocará conflitos sociais e territoriais de consequências imprevisíveis.

Outro grande desafio que o documento contemplava é o da depuração das águas. Atualmente, 47 milhões de pessoas de países mediterrâneos não têm acesso à água depurada, e embora a metade dos habitantes do "mar interior" vivam em cidades uma em cada três urbes da bacia não dispõe de usinas de depuração.

O crescimento demográfico, a atividade turística nas costas e os usos agrícolas vão fazer disparar a demanda em 30% nas próximas décadas, enquanto as reservas hídricas poderão se reduzir em uma porcentagem idêntica por causa da mudança climática.

O documento estratégico que deveria ser aprovado na terça-feira incluía promover uma economia de 25% do total da água que se consumiu em 2005, tendo como meta 2025, assim como uma série de desafios em torno da preservação dos recursos, a melhora da gestão ou a salvaguarda da saúde pública.

A ministra do Meio Ambiente e Meio Rural da Espanha, Elena Spinosa, que presidiu à inauguração da conferência, salientou que o Mediterrâneo é uma bacia hidrológica desequilibrada, com fenômenos extremos de seca e inundações cíclicas, e alertou os países que formam a UpM sobre a necessidade de dotar-se de uma "estratégia comum sobre um recurso escasso", para disporem de água em médio e longo prazo.

A realidade, porém, é que enquanto os países do norte - concretamente os da UE, que devem se ater aos critérios comunitários - há tempo administram seus recursos hídricos em sua globalidade, aplicando critérios econômicos sobre os custos de recuperação e o impacto do uso dos recursos, os países do sul e do leste ainda não têm planos de intervenção.

Apesar do fracasso político de terça-feira, os especialistas quiseram ver o copo meio cheio e não meio vazio, nas palavras de Josep Puxeu. O secretário-geral da UpM, Ahmad Masadeh, apesar de lamentar o ocorrido, lembrou que neste momento já estão em curso até meia centena de projetos sobre a água, e pediu à ONU, à Liga Árabe e ao Conselho de Ministros Africanos que se envolvam no tema. "É necessária uma nova cultura da água que permita criar mecanismos capazes de gerar prosperidade", disse.

Fonte: UOL noticias

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Nota de  www.rainhamaria.com.br

Rio Eufrates sofre há dois anos com seca e poderá desaparecer do Iraque

15.07.2009 - Por todos os pântanos, os coletores de junco, pisando em terra por onde antes flutuavam, gritavam para os visitantes em um barco de passagem."Maaku mai!" eles gritavam, erguendo suas foices enferrujadas. "Não há água!"

O Eufrates está secando. Estrangulado pelas políticas de água dos vizinhos do Iraque, a Turquia e a Síria; dois anos de seca e anos de uso inadequado pelo Iraque e seus agricultores, o rio está significativamente menor do que há apenas poucos anos. Algumas autoridades temem que em breve poderá ser a metade do que era.

O encolhimento do Eufrates, um rio tão crucial para o nascimento da civilização que o Livro do Apocalipse profetizou sua seca como um sinal do final dos tempos, tem dizimado as fazendas ao longo de suas margens, tem deixado pescadores empobrecidos e esvaziado as cidades à beira do rio, à medida que os agricultores fogem para cidades maiores à procura de trabalho.

Os pobres sofrem mais agudamente, mas todos os estratos sociais estão sentindo os efeitos: xeques, diplomatas e até membros do Parlamento que se retiram para suas fazendas após semanas em Bagdá.

Ao longo do rio, os campos de arroz e trigo se transformaram em terra árida. Os canais encolheram para ribeirões rasos e os barcos de pesca ficam encalhados na terra seca. Bombas que visavam alimentar as usinas de tratamento de água balançam inutilmente sobre poças marrons.

"Os velhos dizem que é o pior de que se recordam", disse Sayd Diyia, um pescador de 34 anos de Hindiya, sentado em um café à beira do rio cheio de colegas ociosos. "Eu estou dependendo das graças de Deus."

A seca é grande por todo o Iraque. A área cultivada com trigo e cevada no norte alimentado pela chuva caiu cerca de 95% do habitual, e os pomares de tâmaras e laranjas do leste estão ressecados. Por dois anos as chuvas estão muito abaixo do normal, deixando reservatórios secos. As autoridades americanas preveem que a produção de trigo e cevada será pouco mais da metade daquela de dois anos atrás.

É uma crise que ameaça as raízes da identidade do Iraque, não apenas como a terra entre dois rios, mas como uma nação que já foi a maior exportadora de tâmaras do mundo, que antes fornecia cevada para a cerveja alemã e que tem orgulho patriótico de seu caro arroz âmbar.

Agora o Iraque está importando mais e mais grãos. Os produtores rurais ao longo do Eufrates dizem, com raiva e desespero, que terão que abandonar o arroz âmbar por variedades mais baratas.

As secas não são raras no Iraque, apesar das autoridades dizerem que nos últimos anos estão ocorrendo com maior frequência. Mas a seca é apenas parte do que está sufocando o Eufrates e seu irmão gêmeo maior e mais saudável, o Tigre.

Os culpados citados com maior frequência são os governos turco e sírio. O Iraque tem muita água, mas é um país que está corrente abaixo. Há pelo menos sete represas no Eufrates na Turquia e na Síria, segundo as autoridades de água iraquianas, e sem nenhum tratado ou acordo, o governo iraquiano fica reduzido a implorar por água junto aos seus vizinhos.

Em uma conferência em Bagdá -na qual os participantes beberam água engarrafada da Arábia Saudita, um país com uma fração da água doce do Iraque- as autoridades falavam em desastre.

"Nós temos uma sede real no Iraque", disse Ali Baban, o ministro do Planejamento. "Nossa agricultura vai morrer, nossas cidades vão definhar e nenhum Estado pode ficar quieto em uma situação dessas."

Recentemente, o ministério da água anunciou que a Turquia dobrou o fluxo de água para o Eufrates, salvando o período de plantio de arroz em algumas áreas.

A medida aumentou o fluxo de água em cerca de 60% de sua média, apenas o suficiente para atender metade das necessidades de irrigação para a estação de arroz. Apesar da Turquia ter concordado em manter o fluxo e até aumentá-lo, não há compromisso que exija que o país o faça.

Com o Eufrates exibindo poucos sinais de melhora da saúde, a amargura em torno da água do Iraque ameaça se transformar em fonte de tensão por meses, ou até mesmo anos, entre o Iraque e seus vizinhos. Muitas autoridades americanas, turcas e até mesmo iraquianas, desdenhando as acusações como postura de ano eleitoral, disseram que o problema real está nas deploráveis políticas de gestão de águas do próprio Iraque.

"Costumava haver água por toda a parte", disse Abduredha Joda, 40 anos, sentando em sua choupana de junco em um terreno seco e rochoso fora de Karbala. Joda, que descreve sua situação difícil com um sorriso cansado, cresceu perto de Basra, mas fugiu para Bagdá quando Saddam Hussein drenou os grandes pântanos do sul do Iraque em retaliação pelo levante xiita de 1991. Ele chegou a Karbala em 2004 para pescar e criar búfalos d'água nos ricos alagadiços que o lembravam de seu lar. "Neste ano é apenas um deserto", ele disse.

Ao longo do rio, não há falta de ressentimento em relação aos turcos e sírios. Mas também há ressentimento contra os americanos, curdos, iranianos e o governo iraquiano, todos eles responsabilizados. A escassez transforma todos em inimigos.

As áreas sunitas rio acima parecem ter água suficiente, observou Joda, um comentário cheio de implicações.

As autoridades dizem que nada melhorará se o Iraque não tratar seriamente de suas próprias políticas de água e de sua história de má gestão de águas. Canais que vazam e práticas de irrigação perdulárias desperdiçam água, e a má drenagem deixa os campos tão salgados com a evaporação da água que mulheres e crianças escavam imensos montes brancos das piscinas de água de rolamento.

Em uma manhã escaldante em Diwaniya, Bashia Mohammed, 60 anos, trabalhava em uma piscina de drenagem ao lado da estrada colhendo sal, a única fonte de renda de sua família, agora que sua plantação de arroz secou. Mas a fazenda morta não era a crise real.

"Não há água do rio para bebermos", ela disse, se referindo ao canal que flui do Eufrates. "Agora está totalmente seco e contém água de esgoto. Eles cavam poços, mas às vezes a água simplesmente é cortada e temos que beber do rio. Todos meus filhos estão doentes por causa da água."

No sudeste, onde o Eufrates se aproxima do fim de sua jornada de 2.784 quilômetros e se mistura com as águas menos salgadas do Tigre antes de desaguar no Golfo Pérsico, a situação é grave. Os pântanos de lá, que foram intencionalmente reinundados em 2003, resgatando a cultura antiga dos árabes do pântano, estão secando novamente. Os carneiros pastam em terras no meio do rio.

Os produtores rurais, coletores de junco e criadores de búfalos continuam trabalhando, mas dizem que não poderão continuar se a água permanecer assim.

"O próximo inverno será a última chance", disse Hashem Hilead Shehi, um agricultor de 73 anos que vive em uma aldeia seca a oeste dos pântanos. "Se não conseguirmos plantar, então todas as famílias terão que partir."

Fonte: UOL notícias

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Diz na Sagrada Escritura:

"O sexto derramou a sua taça sobre o grande rio Eufrates, e secaram-se as suas águas para que se abrisse caminho aos reis do oriente". (Ap 16,12)


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