24.10.2009 - “Os Padres da Igreja sobressaíam por sua capacidade de compreensão das coisas celestiais e pela agudeza de pensamento com que perscrutavam as profundidades da Palavra de Deus”. Papa Pio XII
O Ensinamento dos Padres da Igreja
Escreve a antropóloga Cecília Gatto Trocchi, no seu livro A magia: “Os Padres da Igreja consideram a magia como um mentira, não necessariamente no sentido de que os magos e os feiticeiros produzem os seus efeitos evocando e empregando aquelas forças negativas mentirosas e demoníacas que Cristo havia submetido ao seu domínio. O exercício das artes mágicas significa, portanto, não reconhecer a mensagem de salvação de Cristo e empreender uma relação privilegiada com Satanás, tomando em um determinado sentido o lugar de Deus. A magia torna-se a decisão de prolongar a eficácia dos demônios para além dos limites concedidos no tempo da salvação, que se iniciou com Cristo além dos meios sacramentais transmitidos por Jesus á sua igreja”.
O ensinamento dos antigos Padres da Igreja, gregos e latinos, estava baseado sobre a eficácia da redenção operada pela cruz de Jesus Cristo: agente se defende com a cruz, não com amuletos e encantamentos, repetia São João Crisóstomo nas suas Catequeses para os neófitos:
“A cruz de Cristo destruiu a morte, derrotou o pecado, esvazio o inferno, venceu o poder do demônio. (...) A cruz fez ressurgir o mundo interior, e tu não confiaste? Um cristão deveria envergonhar-se e ruborizar-se por ter deixado seduzir pelo encantamento da magia”.
Esta – afirma o próprio Crisóstomo na pregação de Ano Novo - é “uma maluquice extrema”; “o uso dos amuletos é idolatria completa” afirma também no seu comentário a Carta aos Colossenses.
Também Santo Agostinho, nascido e crescido em ambiente egípcio de cultura helenista, falando sobre a encarnação do Verbo, menciona a magia como “loucura”, visto que a humanidade é mesmo o cosmos foram libertados do medo depois da vinda de Cristo e da sua vitória redentora na cruz:
Uma vez tudo (no paganismo) estava cheio de erro dos oráculos. Os oráculos de Delfos e de Dodona, da Beócia, da Lícia, da Libía e do Egito, os oráculos da Pítia enchiam de pasmo a fantasia dos homens.
Portanto, desde quando Cristo foi anunciado em toda parte, cessou esta maluquice e entre eles não se encontra ninguém que profetize. Outrora os demônios iludam os homens apossando-se das fontes, dos rios, das árvores e das pedras, e com os seus sortilégios aturdiam os néscios. Agora, ao invés, depois da revelação divina do Logos (de Jesus Cristo), esta vã aparência cessou: com um simples sinal-da-cruz o homem lhe descobre o engano. (...) E que dizer da sua magia que tanto admiravam?
Antes que chegasse entre nós o Logos, era poderosa e operante entre os egípcios, os caldeus e os hindus, e maravilha os espectadores; mas a presença da verdade e da revelação do Logos condenou a magia e a suprimiu.
Escreve Santo Agostinho: “As predições dos espíritos demoníacos são devidas a habilidades particulares, bem diversas daquelas que consentem aos santos anjos e aos profetas de Deus realizar suas. De fato estes, se anunciam alguma coisa, fazem-no por disposição divina e depois de ter escutado, assim é que não enganam nem são enganados, e as suas previsões conseqüentemente são verdadeiras e dignas da máxima consideração. Ao invés, os espíritos demoníacos não só se enganam, mas fazem cair no erro também os outros. Enganam-se, acima de tudo, porque quando predizem as próprias pretensões, estas são imprevistamente transtornadas pelo Alto. Um pouco como se homens, submetidos a uma outra autoridade, depois de terem dispostos a execução de alguma coisa, vêem-na proibida, depois de longa peroração, imediatamente pelos seus superiores. Os espíritos demoníacos erram nas questões naturais tal qual acontece aos médicos, aos marinheiros e aos camponeses, mas estão em condições – graças às características dos seus corpos aéreos – de conhecer antecipadamente muitas coisas de maneira mais aguda e poderosa; mas também estas coisas passam por imprevistas variações por causa de disposições por eles completamente ignoradas, mas não pelos anjos que adoram o sumo Deus.
Tudo isto assemelha-se um pouco ao caso daquele médico que, depois de ter diagnosticado ao doente uma pronta cura, com base em sintomas precedentes, o vê morrer improvisamente por algo não previsto; ou também o caso do marinheiro que, depois de ter calculado a duração de uma tempestade de ventos, vê Cristo – enquanto navega com os seus discípulos – mandar aos ventos furiosos que se acalmem, com as seguintes palavras: “E fez-se uma grande calmaria” (Mt 8,26); de maneira semelhante como acontece ao agricultor que, depois de ter visto, graças a seu conhecimento da terra e das sementes, um belo enxerto das videiras em condições de frutificar abundantemente, ver, por uma imprevista variação climática, secar tudo ou até mesmo destruir-se tudo pelo capricho de um poderoso. Assim estão, portanto, as coisas em relação às capacidades adivinhatórias dos espíritos demoníacos, os quais, mesmo prevendo alguma coisa com base em causa menores e habituais, vêem tornar-se vãs as suas previsões, por causas mais importantes e desconhecidas” (Santo Agostinho, De divinatione daemonum, cap. VI).
“Os demônios não pode fazer mais do que lhe é permitido”, dizia Santo Agostinho.
Santo Tomás de Aquino, um dos maiores teólogos da História da Igreja, afirma na Suma Teológica: “Os Santos Padres escrevem que os demônios têm poder sobre os corpos e sobre a imaginação do homem, segundo a permissão de Deus. Eis porque os feiticeiros, com a sua ajuda, podem fazer malefícios. Na Sagrada Escritura o apóstolo Paulo coloca as “idolatrias e as feitiçarias” entre as obras “daqueles que não podem herdar o reino de Deus” (cf. G1 5,20) e o apóstolo João recorda que é reservado “o tanque ardente de fogo e enxofre” aos feiticeiros e idólatras (cf. Ap 21,8)”.
São Pedro Apóstolo exorta com afinco sobre a tentação do diabo: “Sede sóbrios e vigilantes! Eis que o vosso adversário, o diabo, vos rodeia como um leão a rugir, procurando a quem devorar. Resisti-lhe, firme na fé, sabendo que a mesma espécie de sofrimento atinge os nossos irmãos espalhados pelo mundo” (1 Pd 5, 8.9).
CONTRA OS EMBUSTES
O exorcista italiano, escritor e padre Francesco Bamonte escreve:
“A diminuição da espiritualidade, ligada à descristianização do mundo moderno, parece arrastar o homem exatamente para aquele ralo de insegurança existencial, de medo e de falta de confiança, do qual o cristianismo havia libertado o mundo”. Tornam-se então admoestadoras as palavras do cardeal Joseph Ratzinger, (papa Bento XVI) citadas expressamente na Nota Pastoral dos bispos toscanos:
“A Cultura atéia do Ocidente moderno vive ainda graças à libertação do medo aos demônios trazidos pelo cristianismo. Mas se esta luz redentora de Cristo precisasse apagar-se, mesmo com toda a sua sabedoria e com toda a sua tecnologia o mundo recairia no terror e no desespero: já vemos sinais deste retorno das forças das trevas, enquanto crescem no mundo secularizado os cultos satânicos”.
O insigne padre Bamonte convoca os cristãos para lutar contra os embustes, charlatanices dos operários do diabo e de todo o sistema satânico.
É nosso dever proclamar a verdade que liberta o ser humano de todo engano religioso. (Jo 8, 32-36).
“Levar os homens à verdade é o maior benefício que se pode prestar aos outros”, afirma Santo Tomás de Aquino.
Jesus Cristo é a única verdade absoluta que liberta e salva o ser humano de toda magia, espiritismo, bruxaria, satanismo, da teologia da prosperidade, das seitas, das heresias e de todo sistema da Nova Era.
Como cristãos batizados temos o poder da Santíssima Trindade, a remissão pelo sangue de Cristo, a fortaleza do nome de Jesus, a proteção na Cruz do Salvador, a graça da salvação, a vitória por meio da fé, a força do amor para o bem do próximo, a tranqüilidade da paz do Senhor, a justiça como Lei para o bem comum e a Palavra de Deus para levar a Boa Nova ao mundo inteiro.
O cristão é detentor das armas mais poderosa do universo para transformar a humanidade. Foi Cristo que disse: “Eis que eu vos dei o poder de pisar serpentes, escorpiões e todo o poder do Inimigo, e nada poderá vos causar dano” (Lc 10,19).
Os Santos Padres da Igreja foram vitoriosos e verdadeiros exemplos de seguidores de Cristo devido à posse das virtudes espirituais.
Nos Padres da Igreja podemos contemplar o zelo ardente pela formação espiritual, pela defesa da fé, a unidade da Igreja e o poder da comunhão eucarística.
A formação catequética para o discípulo era demorada devido que a ‘graça’ não era algo barato. A doutrina da graça para os Padres da Igreja era o tesouro único da Salvação da alma (Ef 2, 8.9: Tt 3,7).
No paganismo as doutrinas eram terrenas, perniciosas e baratas. Diferente da doutrinas de Jesus Cristo que era celestial, Justa, amorosa e de alto valor que custou o precioso sangue do Filho de Deus (1Pd 1,18-20).
“COM TEU SANGUE ADQUIRISTE PARA DEUS GENTE DE TODA TRIBO, LÍNGUA, POVO E NAÇÃO” (Ap 5,9).
Os Padres da Igreja sabiam e viviam os escritos dos Santos Apóstolos de Cristo, por isso seu zelo pela graça era fundamental para a moral Cristã, fidelidade da doutrina e a fortaleza da fé até ao martírio.
É imensurável, belo e colossal a vida e os ensinos dos Padres da Igreja.
Os Padres da Igreja, os Doutores e os Santos são os nossos heróis da fé.
A vida dos Padres da Igreja resplandece a luz de Cristo no caminho da vida ativa e contemplativa.
Já dizia Santo Afonso de Ligório: “A verdadeira sabedoria é a sabedoria dos santos: saber amar a Jesus Cristo”.
Como era por demais evangélico o desprendimento dos Padres da Igreja pelas coisas materiais. A sua visão de riqueza era a graça de Cristo e as moradas eternas.
Eram homens cheios de fé, de sabedoria e do Espírito Santo. Suas vidas eram tomadas pela divina misericórdia. O amor era o triunfo de suas almas. Da obediência ao sacrifício: tudo era por amo. Para eles a maior vitória era vencer suas tentações interiores. Renunciar sempre a carnalidade era a meta constante desses Santos Homens de Deus. Os desafios e lutas eram vencidos pelos poderes da oração, jejum, silêncio e da Palavra de Deus.
CONCLUSÃO
Tudo já foi dito pelos Santos Padres da Igreja para nossa doutrinação da fé, para nossa formação espiritual e para a nossa salvação eterna.
Resta tão somente estudar com profundamente para adquirir conhecimento, fortaleza da graça e evangelizar o mundo.
Os Padres da Igreja são portos seguros da nossa fé católica e seus escritos são marretas que estraçalham as seitas, heresias e todo tipo de magia.
Os tesouros da doutrina cristã, da espiritualidade, do amor ardente ao Senhor Jesus Cristo e a mística abissal encontram-se nos Padres da Igreja.
De suas vidas podemos seguir o fiel modelo de oração, jejum, meditação, estudo da Palavra de Deus, fidelidade à doutrina e a Igreja de Cristo e a gloriosa esperança da vida eterna.
Vamos mergulhar a fundo e com total radicalidade nos estudos dos Santos Padres da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Pe. Inácio José do Vale
Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo
Professor de História da Igreja
Faculdade de Teologia de Volta Redonda
E-mail: [email protected]
Bibliografia:
Bamonte, Francisco. Magia ou ciência? Como libertar-se da superstição, da feitiçaria e dos charlatões, São Paulo: Editora Ave Maria, 2005, pp. 122-124.
Possessões diabólicas e exorcismo: como reconhecer o astuto pai da mentira, São Paulo: Editora Ave-Maria, 2007, p.19.
Aquino, Felipe Rinaldo Queiroz de. Na escola dos Santos Doutores, Lorena, SP: Cléofas, 1996.
Figueiredo, Fernando, Antônio. Introdução à Patrística: vida, obra e doutrina cristã nos primeiros anos da Igreja, Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.