Artigo do Padre José do Vale: Curandeiros e Charlatões


 30.09.2009 - “A magia, com todas as práticas conexas, é superstição, idolatria, porque toda ela é uma busca fora de Deus e das suas leis, que não satisfazem aquele que crê; por isso procuram-se outros caminhos, outras leis, outras divindades que venham em auxílio”.   Padre Gabriel Amorth  - Exorcista do Vaticano

Loredana, de 17 anos, tem um caderno de capa cor-de-rosa, onde anota letra de musicas. Foi uma das poucas coisas que levou consigo quando fui de casa, há três meses, junto com duas irmãs mais novas. As três eram freqüentemente estupradas pelo pai, a mando da própria mãe.
- Minha mãe é curandeira e mandava meu pai dormir conosco para ser rica e ter saúde - explica numa voz quase inaudível e os olhos fixos em um ponto qualquer da parede por sobre o ombro do interlocutor.
Ela e as irmãs vivem atualmente no Centro Nhamai (mulher, no dialeto bitonga), na periferia da capital Maputo, que acolhe mulheres vítimas de violência e abuso sexual. Todos os seus pertences, inclusive o caderno, cabem numa mochila, guardada atrás da cama de ferro que delimita seu único espaço individual no centro.
Não se trata de uma história isolada. Os casos de abuso sexual por orientação de curandeiros não são raros em Moçambique e são apontados por especialistas como um dos fatores da acelerada disseminação da aids na África Subsaariana, que concentra 70% dos casos mundiais da doença. Estatísticas atribuídas ao governo indicam que existem 72 mil curandeiros em todo o país e a epidemia se tornou uma fonte de lucro para os oportunistas.
Não por acaso, o tema é debatido em horário nobre, na novela "Vidas em Jogo", uma co-produção entre Brasil e Moçambique, estrelada por atores moçambicanos, que aborda a aids e os aspectos culturais e sociais da epidemia.
- Mostramos os curandeiros charlatães que dizem que podem curar a doença usando lâminas sem assepsia, por exemplo, mas também mostramos que existe o curandeiro mais consciente, que encaminha os pacientes para o posto de saúde - conta Caroline Menezes, sócia da Cinevideo e produtora executiva da novela.
Moçambique é o oitavo país mais afetado do mundo pela infecção, com uma prevalência que chega a 14% entre a população adulta. A expectativa de vida hoje pouco ultrapassa os 40 anos. Crendices e tradições culturais muito arraigadas forjaram uma epidemia de parâmetros únicos.
- Existe o mito disseminado de que a relação com uma virgem vai livrar o homem do HIV - conta Cecília Tembe, a coordenadora do centro. - E há curandeiros que dizem que, se um homem dormir com sua filha, o tratamento vai correr bem. E ele ainda vai ficar rico.
Dinheiro e saúde são os bens mais preciosos num país em que 70% da população vivem abaixo da linha da pobreza e uma em cada seis pessoas é portadora do HIV.
- Alguns curandeiros dizem que o sangue de um animal pode livrar o homem do vírus, mesmo que ele tenha feito sexo sem camisinha. Mas outros recomendam a relação com a filha virgem - confirma Nacima Figia, coordenadora de Direito da Mulher e da Criança da ONG Actionaid.
E não só.
- Alguns deles garantem que quanto mais nova for a menina, mais fácil o vírus sai do corpo dele e ele fica curado - conta Paula Vera Cruz, coordenadora nacional do Comitê da Mulher e do Jovem. - Há casos de abuso de meninas de dois anos de idade (1).


POBREZA E O MAL INVISÍVEL

“Nada destrói a alma como a pobreza”.
Jane Austen (1775-1817)
Escritora Britânica

“Não tenho dúvida que a questão mais urgente da agenda brasileira é o combate à pobreza. A pobreza mata. Limita o presente e destrói o futuro. Aniquila gerações. As conseqüências dramáticas da pobreza deveriam justificar a implantação de uma sólida agenda nacional capaz de resolver o problema de forma definitiva, mas, infelizmente, isso não tem sido possível. O combate à pobreza é responsabilidade do Estado e exigência da sociedade. A segurança de renda é uma conquista, mas precisamos avançar ainda mais conduzindo programas sociais que ofereçam caminhos para uma inclusão social sustentável”, escreve Marcelo Garcia, presidente do Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social e secretário executivo do Instituto CNA (2).
Em Moçambique a pobreza disseminada potencializa a questão cultural. É uma prática disseminada o sexo em troca de pequenos presentes, como telefones celulares e roupas de grifes caras. As moças que usam os cobiçados jeans de cintura baixa são chamadas, na gira de Maputo, de “tchunga baby”, ou seja, elas têm um parceiro mais velho e mais endinheirado, que lhes dá presentes.

Formado pela School of Foreign Service da Universidade de Georgetown, em Washington, Parag khanna tornou-se PhD em Relações Internacionais pela London School of Economics, trabalhou no Brookings Institution e foi conselheiro na campanha de Barack Obama. Atual diretor da Iniciativa Governamental Global e pesquisador sênior do Programa e Estratégia Americana do think tank New America Foundation, Khanna analisa a transformação do inabalável poder americano sobre o mundo com a guerra no Iraque e o cenário com o qual o novo presidente americano terá de lidar, com uma equipada União Européia, a triunfante China e o crescimento silencioso do segundo mundo, em que o abismo entre ricos e pobres foi aprofundado com o processo de globalização (3).
Exorta o Papa Bento XVI: “Dar de comer aos famintos (cf.Mt 25,35.37.42) é um imperativo ético para toda a Igreja, que é resposta ao ensinamentos e solidariedade e partilha do seu fundador, o Senhor Jesus. Além disso, eliminar a forme no muno tornou-se, na era da globalização, também um objetivo a alcançar para preservar a paz e a subsistência da terra”(4).
Via o óbolo de São Pedro e a Cáritas, o Papa têm ajudado e socorrido muitos países pobre e vitimas de catástrofes.

É notável que uma das mais eloqüentes vozes em defesa dos 18 milhões de habitantes do planeta que morrem desnecessariamente a cada ano nos países em desenvolvimento saia da boca e da pena de um grande filósofo. Segundo o australiano Peter Singer, professor de bioética na Universidade de Princeton, essa tragédia mostra que “há uma mácula moral em um mundo rico como o nosso! em um mundo rico como o nosso”. Em seu mais recente livro, A Vida Que Você Pode Salvar, Singer prega que as pessoas em situação financeira confortável deveriam separar 5% de sua renda atual para impedir o sofrimento e a morte dos demais necessitados. Os muitos ricos deveriam doas muito mais. Ele ensina que essa ajuda aos pobres trará significado e propósito às nossas vidas.
O Escritor entende que “filantropia para as artes e atividades culturais, em um mundo como este, é normalmente dúbio”. Comenta que os US$ 45 milhões pagos pelo Metropolitan Museum of Art, de Nova York, por um quadro de Duccio, daria para pagar operações de catarata para 900 mil pessoas cegas nos países em desenvolvimento. Isso nos leva a crer que, se o museu estivesse em chamas, alguém consideraria certo salvar o quadro do incêndio – e não uma criança.
Muito antes de Singer, os Provérbios ensinavam que “quem despreza o próximo comete pecado, mas como é feliz quem trata com bondade os necessitados” (Prov. 14,21). Jesus amplia esse pensamento e declara: “Há maior felicidade em dar do que receber” (Atos 20,35).
Peter Singer não é um teórico sobre o assunto. Além de doar 25% de sua renda anual, em um de seus sites ele encoraja as pessoas a fazerem o mesmo, combatendo assim a pobreza mundial. Segundo Dwight Garner, Singer já obteve mais de 1.800 adesões (5).
“O mercado é o deus do mundo pós-moderno”, diz o filósofo francês Dany-Robert Dufour.
Temos que lutar bravamente contra os inimigos da humanidade como: os charlatães da magia, as seitas, a Nova Era, curandeirismo, esoterismo, espiritualismo, bruxaria, feitiçaria, superstição, astrologia, cartomancia, teologia da prosperidade, o neopentecostalismo, a fome, a pobreza, o deus do mercado e toda cultura que gera a morte.
O nosso inimigo não é só visível como à ignorância, a boçalidade, a falsa religião e o sistema com a sua cultura de morte, mas invisível como afirma São Paulo Apóstolo: “Revesti-vos da armadura de Deus, para poderes resistir às insídias do diabo. Pois o nosso combate não é contra o sangue nem contra a carne, mas contra os Principados, contra as Autoridades, contra os Dominadores deste mundo de trevas, contra os Espíritos do Mal, que povoam as regiões celestiais. Empunhando sempre o escudo da fé, com o qual podereis extinguir os dardos inflamados do Maligno”.
“E tomai o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus” (Ef 6,10-17).
De forma magistral nos ensina o Papa Bento XVI em sua Carta Encíclica Caritas in Veritate: “As novas formas de escravidão da droga e o desespero em que caem tantas pessoas têm uma explicação não só sociológica e psicológica, mas essencialmente espiritual” (nº 76).


CONCLUSÃO

A nossa missão é pregar o amor de Deus, a verdade que liberta e a solução em Jesus Cristo e o poderoso Consolo do Espírito Santo para o mundo que vive em aflição e conturbado pelas drogas, pela violência, pela desagregação familiar, pela destruição do meio ambiente, pela pobreza, pela corrupção, pela decadência moral, pelas doenças, pelo fundamentalismo religioso, pelo terrorismo, o medo de uma guerra nuclear, a ameaça das armas de destruição de massa, e pelo tráfico em geral.
Só o ensinamento de Jesus de Nazaré é a solução para todos os males: “ESTE É O MEU MANDAMENTO: AMAI-VOS UNS AOS OUTROS, ASSIM COMO EU VOS AMEI. NINGUÉM TEM AMOR MAIOR DO QUE AQUELE QUE DÁ A VIDA POR SEUS AMIGOS” ( Jo 15,12.13).

Pe. Inácio José do Vale
Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo
Professor de História da Igreja
Faculdade de Teologia de Volta Redonda
E-mail: [email protected]

Notas

(1) O Globo, 06/09/2009, p. 37.
(2) O Globo, 08/09/2009, p. 7.
(3) Jornal do Brasil, 01/12/2008, p. 21.
(4) Carta Encíclica Caritas in Veritate, n. 27.
(5) Ultimato, set/out, 2009, p.16.
Bamonte, Francesco. Magia ou ciência? Como liberta-se da superstição, da feitiçaria e dos charlatões , São Paulo: Ave-Maria,2005,p. 98.


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