21.03.2009 - A água afundou a aritmética. Mais de dois mil especialistas de várias universidades se reuniram em Copenhague, na Dinamarca, para corrigir um erro de cálculo. Em 2007, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) havia divulgado que o nível do mar subiria 50 cm em um período de 230 anos, de 1870 a 2100. Mas, na semana passada, a conta foi refeita e os oceanos atingirão este nível de elevação já em 2010, ou seja, em 140 anos. A estimativa anterior não havia considerado o acelerado derretimento das calotas polares da Groenlândia e da Antártida - entre maio de 2004 e abril de 2006, por exemplo, a velocidade de degelo foi 250% maior do que no biênio anterior. A previsão é que nos próximos 90 anos o nível do mar suba pelo menos mais 50 centímetros.
"O mundo está se dirigindo para uma catástrofe e não sei se conseguiremos mudar isso", diz Koichiro Matsuura, diretor-geral da Unesco, Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Em algumas localidades, o fenômeno é visível. No Brasil, moradores de São João da Barra (RJ) e Olinda e Jaboatão (PE) sofrem com a elevação do nível do mar, perdendo até suas residências. As ilhas do leste da Índia estão ficando embaixo d'água e os dirigentes de países insulares como Kiribati e Maldivas procuram um novo território para abrigar suas populações.
Muitos fatores influenciam a subida do nível do mar, mas apenas um será decisivo: o total derretimento das calotas polares. "Isso pode alterar as correntes marítimas, que são responsáveis pelo equilíbrio da temperatura do mar", diz Ilana Wainer, especialista em oceanografia e mudanças no clima da Universidade de São Paulo. Segundo ela, a alteração climática dos oceanos implicará a completa mudança na biosfera. "Isso significa desequilíbrio. De um lado inundações, do outro seca. Aumento no número de furacões e erupções vulcânicas", explica Ilana.
No outro extremo, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou um relatório estimando que três bilhões de pessoas sofrerão com escassez de água em 2025. As causas seriam as secas, o aumento populacional, a crescente urbanização, a mudança no clima e a má administração dos recursos. Mais: Carol Turley, do Laboratório Marinho de Plymouth, no sul da Inglaterra, disse que os mares se tornaram 30% mais ácidos nos últimos anos e a causa direta disso é a emissão de gás carbônico. "Certamente teremos uma extinção em massa de espécies marinhas. As primeiras a serem afetadas serão as estrelas-do-mar", disse Turley. "Temos que continuar investindo em energias limpas e nos preparar para criar alternativas para um futuro que já está traçado.
Fonte: Revista ISTOÉ, março 2009
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Lembrando...
Presidente das Maldivas junta dinheiro para migração. país deve ser engolido pelo mar
15.03.2009 - As pequenas Ilhas das Maldivas são tão frágeis quanto belas. A maioria é menor do que um campo de futebol e formada por bancos de areia, que as ondas fazem mudar de forma ao longo dos anos.
No país, aquecimento global não é uma ameaça - é uma sentença de morte por afogamento. São mil e duzentas ilhas com a altitude máxima de 1,20 m em média. Em todo o arquipélago não há um ponto de terra sequer acima de 2,5 m. Por isso, quando os oceanos começarem a subir por causa do aquecimento global, as Maldivas devem ser a primeira nação a desaparecer sob as águas.
"Não estou falando de tanto tempo, apenas 20 anos. Tudo mudou muito rápido. É muito difícil para nós, porque nós sempre tiramos tudo do mar. Nossa vida sempre veio do mar. Pensar que o mar vai nos engolir é muito, muito triste", diz o jovem presidente das Maldivas, Mohamed Nasheed.
Com apenas 3 mil carros e nenhuma grande indústria, as Maldivas quase não emitem gases que provocam o efeito estufa. Na capital, Malé, vivem 100 mil pessoas, um terço da população do país. Ela foi cercada por um muro que pode proteger contra as tempestades, cada vez mais fortes. Mas não será suficiente para conter as águas. Na previsão mais otimista dos cientistas da ONU, em 100 anos 75% das ilhas terão desaparecido. Na mais pessimista, nada vai sobrar do arquipélago.
Por isso, o presidente criou um fundo, uma espécie de poupança nacional, para comprar terras e mudar o país inteiro quando seu povo for expulso do paraíso.
"Mesmo que nós consigamos acabar com as emissões agora, não dá mais para reverter a situação. Sabemos que o pior pode chegar daqui a mais de 100 anos. Mas as previsões falam em dois bilhões de refugiados do clima no planeta. Quem vai estar aqui será outro presidente, mas será o destino dos meus netos. E quero evitar que meus netos fiquem abrigados em tendas como refugiados do clima", afirma o presidente.
A história das Maldivas tem 4 mil anos. Vivem da pesca, principalmente do atum. Os pescadores pouco falam da ameaça do clima. Mas reclamam que mal reconhecem o calendário tradicional baseado no clima. As chuvas aparecem fora de época, as tempestades são mais fortes. As marés parecem não ser mais controladas pela lua.
Ao todo, 50 mil pessoas estão se mudando para lá. Mas construir ilhas altas para toda a população seria mais caro do que comprar terras no exterior.
Índia, Sri Lanka e Austrália seriam as opções mais fáceis. Mas os governos ainda nem foram sondados para saber se aceitariam um país dentro do seu país. E depois, sem as ilhas, onde os pescadores vão pescar? De onde virá a renda, hoje baseada no turismo de luxo?
A barreira de corais fica tão perto da praia que não é preciso nem de barco pra mergulhar. Dá pra ir andando. A cem metros da praia, a barreira. Logo vemos uma grande estrutura de metal, em forma de uma flor de lótus, na qual várias espécies de coral florescem. O biólogo Robert Tomasetti mostra como em apenas cinco anos uma rocha calcária se formou ao redor do metal. Ele também ensina os nativos a plantar corais.
"Mesmo que as ilhas desapareçam, os arrecifes de corais vão continuar aqui. E ao longo dos séculos vão reconstruir as ilhas. Mas se os corais morrerem, o mar vai cobrir as Maldivas e elas vão sumir. Elas são intimamente ligadas aos arrecifes. Sem eles, as ilhas não existem", garante o biólogo.
Fonte: G1
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"Haverá consternação dos povos pelo bramido do mar e das ondas, mirrando-se os homens de susto na expectativa do que virá sobre o mundo, porque as forças dos céus se abalarão”. (Lucas, 21,25)