04.11.2015 -
Impressões sobre o Sínodo (II): Ser ou não ser, eis a questão.
Existe pecado, e pecado mortal? Ser ou não ser católico de verdade – eis toda a questão!
Por Padre Romano | FratresInUnum.com
O debate suscitado na Igreja e na mídia, a respeito da Comunhão aos casais em segunda união, depois de um casamento contraído validamente por um ou pelos dois “cônjuges”, deixa de lado uma questão fundamental: existe pecado, e pecado mortal? E, mais ainda: quem se encontra objetivamente numa situação de pecado, pode salvar-se?
Uma das terríveis lacunas deixadas pelo Relatório final do recém concluído Sínodo sobre a Família, em particular nos polêmicos e ambíguos nn. 84-86, é a total ausência de referência ao pecado no qual vivem as pessoas que se encontram em uma união adúltera.
Sim, adúltera.
Por mais que se possa apelar ao sofrimento em que se encontram tais pessoas, e por mais graves que tenham sido as razões que levaram à separação de um casamento anterior válido, o fato é que essas pessoas estão vivendo numa situação de pecado e em perigo de se perderem eternamente!
A primeira atitude da Igreja, ao acolher essas pessoas – uma atitude de verdadeira misericórdia! – é de ajudá-las a se confrontarem com a verdade divinamente revelada, sobre a unidade e indissolubilidade do matrimônio, e a buscarem o único caminho possível: o da conversão e da mudança de vida. Caminho este que poderá ser árduo e longo, mas que não pode ficar pela metade. Seria um gravíssimo erro, tanto para essas pessoas como para todos os demais fiéis, propor soluções pastorais de “integração” que, inevitavelmente, levariam à acomodação artificial a uma situação objetivamente grave, que teria consequências fatais, isto é, em breves palavras, a condenação eterna ao inferno.
Mas, que consciência têm nossos pastores dessas verdades fundamentais? A perda da consciência do pecado é, certamente, o maior drama da nossa época. E se aqueles que são chamados a pregar o Evangelho a todas as gentes, e a anunciar que, sem conversão, não há salvação, omitem-se em anunciar tais verdades, estamos diante de uma situação catastrófica! De fato, o discurso atual, dentro da Igreja, e que se refletiu sobre o Sínodo, é o de quase absoluto silêncio sobre as verdades últimas da nossa existência – os novíssimos -: morte, juízo, inferno e paraíso, e sobre o pecado, que condiciona a nossa salvação. Verdades basilares da nossa Santa Religião, e que devem determinar a nossa vida sobre esta terra, porque, como diz Nosso Senhor, “que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, se vem a perder a sua alma?” (Cf. Mc 8, 36)
Estamos, portanto, no coração da crise da Igreja, que é uma crise de fé. Fé na Redenção, cuja visão parece – ao menos no discurso e na prática pastoral – distanciar-se sempre mais da sua intrínseca conexão com o pecado, que é a causa de todos os males, temporais e eternos, do homem. Cristo se torna o amigo, o companheiro de caminhada dos homens, o defensor das causas mais nobres da humanidade, e não o Salvador, o Redentor que vem para tirar o pecado do mundo, para reconciliar o ser humano com Deus, livrando-o do pecado. Não é, pois, de se admirar que a abordagem do Relatório seja toda ela de cunho sociológico e antropológico. Palavras como integração, acolhida, avaliação da situação concreta, quando dissociadas, ainda que indiretamente, da verdade integral da Revelação, reduzem a mensagem evangélica a uma mera filantropia e a uma misericórdia que quer quase que justificar o pecado a todo custo.
Certamente, não há nada de novo no que acabo de dizer: afinal, este é o discurso que, há muito, ecoa a partir dos púlpitos e cátedras, e de inúmeros simpósios e congressos. Contudo, parece que entramos numa nova fase, na qual aqueles que receberam autoridade máxima para ensinar a verdade e dissipar as trevas do erro, também se dobram a essa linguagem humanística e relativista. Pastores que foram constituídos como tais para conduzir as ovelhas a Cristo emanam um perfume sedutor de ovelhas, mas, na verdade – conscientemente ou não -, tornam-se lobos vorazes, que abrem as portas do abismo para um rebanho que não consegue mais distinguir o bem e o mal, se não houver quem o ajude.
Atualíssimas, portanto, são as palavras de Paulo VI a Jean Guiton, seu amigo e confidente, pouco tempo antes de morrer: “Há uma grande perturbação neste momento da Igreja, e o que se questiona é a fé. O que me perturba, quando considero o mundo católico, é que dentro do catolicismo parece, às vezes, que pode predominar um pensamento não católico, e pode suceder que este pensamento não católico dentro do catolicismo se converta, amanhã, como o pensamento mais forte. Porém, nunca representará o pensamento da Igreja. É necessário que subsista uma pequena grei, por muito pequena que seja”. Dizeres de um Papa que, certamente, não pode ser rotulado de tradicionalista e que, em outro momento de grande lucidez, afirmou que “por alguma brecha a fumaça de Satanás entrou no Templo de Deus” (29 de junho de 1972).
A Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo é, certamente, indefectível e santa. Porém, o dano que causa às almas um ensino vago e ambíguo não pode deixar-nos tranquilos. Por amor à verdade, por amor à salvação eterna das almas, a começar pela nossa própria, não podemos calar a verdade. Nas últimas décadas, tem-se falado tanto de profetismo na Igreja, geralmente associado à denúncia das injustiças sociais. Pois bem: é preciso nadar contra a corrente – como os profetas!
Faz-se mister denunciar, como S. João Batista, a maldade do pecado, da impureza, do adultério, e lembrar que nenhuma integração forçada pode garantir a salvação eterna, se não estiver profundamente enraizada na verdade. É necessário lembrar, também aos Pastores da Igreja, que existe um inferno eterno, para onde todos – incluindo eles – podem ir, se não se converterem. É fundamental que a pregação da Igreja volte a ser “sim ou não, pois tudo o mais vem do Maligno”(cf. Mt 5, 37).
O problema do Sínodo é, pois, uma questão de fé, da verdadeira fé, da fé católica, sem a qual não podemos nos salvar. O dilema é este: a perda da fé católica. Ser ou não ser católico: eis a questão, a grande e decisiva questão! Fonte: http://fratresinunum.com
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Nota de www.rainhamaria.com.br
Diz na Sagrada Escritura:
"O casamento deve ser honrado por todos; o leito conjugal, conservado puro; pois Deus julgará os imorais e os adúlteros". (Hebreus 13, 4)
"Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne." (Efésios 5, 31)
"Eu, porém, vos digo: todo aquele que rejeita sua mulher, a faz tornar-se adúltera, a não ser que se trate de matrimônio falso; e todo aquele que desposa uma mulher rejeitada comete um adultério". (São Mateus 5, 32)
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