02.12.2014 -
Os sinais exteriores de seca se escondem nos detalhes. Os carros estão um pouco mais sujos que o de costume, um cartaz implora por restrições de higiene nas portas dos toaletes e os galões de água ficam escondidos atrás do balcão dos bares e dos pátios de prédios: a cidade de Itu vem passando por uma falta brutal de água há meses, mas parece querer salvar as aparências.
"Sinto vergonha", diz Rosinha, grisalha de cinquenta e poucos anos, uma garçonete enérgica dessa cidade-dormitório de 165 mil habitantes que tem seu charme, situada 90 quilômetros ao norte de São Paulo.
"Existem problemas de água aqui desde que eu nasci. Mas este ano foi algo inédito." Itu é uma das cidades mais afetadas pela seca excepcional que vem se abatendo sobre o centro e o sudeste brasileiro desde o mês de janeiro. No total, mais de 300 municípios do Estado de São Paulo sofreram nos últimos meses sérias restrições de água, além de outros cem no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Cerca de 40 milhões de pessoas estão com seu abastecimento de água ameaçado.
"Dança da chuva"
Em Itu, onde não passa nenhum rio, alguns habitantes contam que houve cortes de água antes mesmo do final de 2013. "A situação só piora, e as restrições e as reduções de pressão se tornaram quase sistemáticas nos últimos meses, com intervalos de dois a três dias", afirma Rosinha. "Algumas famílias da periferia ficaram sem água por duas semanas seguidas."
Após um inverno particularmente seco seguido de uma intensificação das ondas de calor e um mês de outubro escaldante, o Estado de São Paulo viu seus reservatórios de água atingirem níveis críticos. Apesar de algumas chuvas que vieram nas últimas semanas, os níveis não pararam de cair.
Mesmo as fortes precipitações ocorridas no dia 25 de novembro não aliviaram a gigantesca rede de represas do Cantareira. Esse sistema, que abastece 45% da região metropolitana e 6,5 milhões de pessoas do norte de São Paulo, está com somente 9,3% de sua capacidade. O sistema hídrico Alto do Tietê, que atende 4,5 milhões de habitantes, está com 5,8%. Em Itu, as reservas de água estão abaixo de 3%.
Essa situação fez com que o presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, dissesse que somente "um dilúvio" poderia devolver um nível normal ao Cantareira em 2015. Diante de uma comissão parlamentar, ele explicou que essa região que fica ao norte da cidade recebeu 50% a menos de chuvas do que o pior ano já registrado em 84 anos.
"A maior região econômica do país está refém das chuvas", ele avisa, lembrando que as obras anunciadas pelas autoridades do Estado só serão concluídas daqui a um ou dois anos.
A seca não é a única culpada. "Em 2009 e 2010, houve um excesso de água, mas ele se perdeu porque não souberam onde armazená-lo. A situação é complicada", lembrou Marco Aurélio Cardoso, diretor da companhia de águas de Guarulhos, cidade periférica de 1,3 milhão de habitantes onde o abastecimento de água vem sofrendo cortes desde março.
Complicada é apelido. "Estamos presenciando um colapso do sistema", diz Roberto Silva, antigo empresário da região, que foi buscar alguns litros de água na fonte pública do bairro de Santa Terezinha, um dos seis pontos de água da cidade de Itu.
"Durante décadas estivemos no limite dos reservatórios e nada foi feito para melhorar a infraestrutura, enquanto a população e a demanda por água aumentavam. Os projetos eram adiados ou o dinheiro, desviado. A chuva sempre acabava fazendo com que os problemas passados fossem esquecidos."
Durante os meses que precederam as eleições de outubro, as autoridades de São Paulo minimizaram a gravidade da situação. "Nenhum dirigente queria assumir o risco de abordar o assunto, adiando assim uma eventual solução para a crise", reconhece um colaborador do palácio do governo.
Diante da recusa do governador Geraldo Alckmin, um dos principais líderes da oposição, de racionar água na megalópole, o ministério público paulista recomendou que fosse restringida retirada de água das reservas. Só depois que passaram as eleições presidenciais o governador foi até Brasília para pedir auxílio financeiro emergencial e a ligação da rede ao sistema hídrico de seu vizinho carioca.
Em meados de outubro, uma manifestação de moradores de Itu saiu de controle quando um grupo tentou entrar à força na prefeitura. Um mês depois, um punhado de manifestantes protestou em São Paulo para exigir uma melhor gestão da infraestrutura. Ainda nesse fim de semana, foi realizada uma "dança da chuva" no centro da cidade em sinal de protesto.
O principal alvo dos manifestantes era a Sabesp, empresa pública listada na Bolsa de São Paulo e especializada no transporte de água e tratamento de águas residuais. Para a procuradora da República, Sandra Shimada Kishi, "falta credibilidade" à Sabesp na gestão da crise. Aos erros de gestão se somaram as negligências. As tubulações da capital paulista, totalmente vetustas, registram uma perda de mais de 30% da água que é encaminhada até o usuário.
"Corrida contra o tempo"
A urbanização descontrolada e a falta de programas de saneamento, que são denunciadas regularmente pelos especialistas, provocaram o esgotamento das fontes e a contaminação dos rios. Tanto que hoje, após meses de seca, a rede das hidrelétricas dos arredores anuncia uma queda de 30% em seus lucros e riscos de cortes de energia nos próximos meses.
"Tudo está ligado", diz Clayton Machado, prefeito de Valinhos, uma cidade de 120 mil habitantes que fica a uma hora de estrada de Itu. Em fevereiro, ele foi o primeiro prefeito da região a determinar um corte de água, em dois dias da semana. "Passaremos a três se for necessário", ele avisa. Segundo seus cálculos, os investimentos em infraestrutura só para a cidade de Valinhos chegam a R$ 180 milhões. Ele diz estar batendo em todas as portas para encontrar recursos, e desabafa: "É uma corrida contra o tempo."
Fonte: UOL noticias
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Nota de www.rainhamaria.com.br
Por Dilson Kutscher
A maior seca acontece no coração dos homens e reflete nas fontes de água da Terra.
Diz na Sagrada Escritura:
"Clamo a vós, Senhor, porque o fogo devorou a erva do deserto, a chama queimou todas as árvores do campo; os próprios animais selvagens suspiram por vós, porque as correntes das águas secaram, e o fogo devorou a erva do deserto". (Joel 1, 19-20)
"Muito tempo guardei o silêncio, permaneci mudo e me contive. Mas agora grito, como mulher nas dores do parto; minha respiração se precipita.
Vou devastar montanhas e colinas, secar toda a vegetação, transformar os cursos de água em terras áridas, e fazer secar os tanques". (Isaias 42)
"Haverá algum homem sábio que possa compreender essas coisas? A quem as revelou o Senhor a fim de que as explique? Por que perdeu-se essa terra, queimada como o deserto, por onde ninguém mais passa"? (Jeremias 9, 11)
"O quarto derramou a sua taça sobre o sol, e foi-lhe dado queimar os homens com o fogo. E os homens foram queimados por grande calor, e amaldiçoaram o nome de Deus, que pode desencadear esses flagelos; e não quiseram arrepender-se e dar-lhe glória". (Apocalipse 16, 8 -9)
"Quando abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro animal clamar: Vem! E vi aparecer um cavalo preto. Seu cavaleiro tinha uma balança na mão. Ouvi então como que uma voz clamar no meio dos quatro Animais: Uma medida de trigo por um denário, e três medidas de cevada por um denário; mas não danifiques o azeite e o vinho!" (Apocalipse 6, 5-6)
"Estava grávida e gritava de dores, sentindo as angústias de dar à luz". (Apocalipse 12, 2)
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