24.10.2014 -
O trágico suicídio do comediante Robin Williams contém muitas lições. Todos os comentaristas se apressaram em apontar as contradições de sua vida. Para preenchê-la, ele teve tudo que o mundo podia lhe oferecer: dinheiro, fama e um divertido estilo de vida. Isso, no entanto, longe de satisfazê-lo, deixou um vazio que o levou a dois casamentos fracassados, drogas, depressão, falência e, finalmente, ao desespero.
A contradição é ainda mais chocante por tratar-se de um comediante que ganhou a vida fazendo as pessoas rirem. Seu trabalho era zombar, ridicularizar e menosprezar tudo. Para ele, nada era suficientemente sagrado, nada estava a salvo de suas piadas. Exteriormente ele podia rir e brincar… mas só para escapar dos soluços e dos gemidos de sua tristeza interior.
A tragédia de Robin Williams ressalta não apenas a futilidade da fama e da riqueza. A inconsistência de tais esforços é conhecida desde tempos imemoriais. Essa tragédia indica antes problemas mais profundos que perseguem e assediam o homem moderno em sua busca vã de sentido.
O mau no caso não é só o fracasso de um indivíduo, mas de uma cultura. Mostra aonde pode conduzir a organização de uma vida de conforto material distanciada dos campos espiritual ou metafísico, que obrigam o homem a levar a vida a sério. Revela uma visão de mundo que roça na superfície das coisas, sem o desejo de se esforçar para vê-las mais a fundo. Em um mundo tão rápido e vertiginoso, cheio de stress e de ansiedade, a morte de Williams revela os efeitos da rejeição ao descanso mental, que se encontra na tranquilidade, no recolhimento e na verdadeira recreação, em proveito do esgotamento acarretado por jogos e diversões constantes.
Robin Williams ri ou chora? Ou as duas coisas ao mesmo tempo?
O suicídio de Robin Williams evoca a condição que São Tomás de Aquino chama de acédia, que ele definiu como o tédio em relação às coisas santas e espirituais, cuja consequência é uma tristeza de viver. Como ser espiritual, o homem afligido pela acédia não atende a seus apetites espirituais. “Ele não quer o que Deus quer que ele seja – observa o filósofo Josef Pieper –, e isso significa que não quer ser o que ele realmente é, no seu sentido mais elevado”. Esta recusa em considerar o espiritual não pode deixar de trazer tristeza, abatimento e até mesmo desespero.
É isso o que vemos hoje. Aquelas coisas que podem satisfazer a alma – a beleza, a sublimidade ou a santidade – são rejeitadas ou, pelo menos, postas de lado. São substituídas pela intemperança frenética dos nossos tempos, em que a sensação, o imediatismo e o golpe de efeito comandam. Em tal cultura, a história em quadrinhos é o sumo sacerdote que questiona tudo, zomba da autoridade e oficia na representação de uma grande comédia.
Nesta grande comédia, a vida exteriormente é uma grande festa, mas por dentro muitos corações sangram. Os atores mascaram as grandes dores que os afligem e convidam todos a rir com eles. E os espectadores, por sua vez, mascaram suas próprias tragédias pessoais e executam seu papel dando gargalhadas. Assim, atores e espectadores fazem parte de um mesmo grande show prenhe de contradições. E, a cada novo ato, as piadas se tornam mais baixas e grosseiras.
Poucos têm coragem de falar e denunciar esta farsa. Preferem continuar participando da comédia e fingindo que todo mundo está feliz. Somente as tragédias chocantes, como o suicídio de Robin Williams, servem para desmascarar – por pouco tempo – a paródia, até o início inevitável do próximo ato.
Há lições a serem tiradas desse suicídio: a felicidade não está no conforto material ou no entretenimento sem fim. Na realidade, apesar da aparência externa da grande comédia, a verdadeira felicidade evadiu da sociedade de hoje, e uma grande tristeza baixou sobre a terra.
Outra lição é que podemos encontrar algum grau de felicidade indo em sentido oposto. Isso ocorre quando as pessoas olham para além da sua auto-indulgência e procuram ser fiéis à sua própria natureza. Ou quando satisfazem harmoniosamente suas apetências materiais e espirituais procurando coisas excelentes, belas e sublimes. Assim agindo, elas rumam em direção aos princípios superiores, ao bem comum, ou, finalmente, a Deus, dando assim significado e propósito a suas vidas.
A grande comédia da vida é então substituída pela grande gala da História, um drama espetacular que dá origem a obras de arte, a realizações culturais fabulosas, a grandes feitos e a atos de piedade religiosa. Este drama tem a capacidade de inspirar sentimentos de lealdade, dedicação e devoção que podem preencher o enorme vazio que nos deixa a trágica comédia.
Por John Horvat II, diretor da TFP americana e autor do best-seller Return to Order sobre a atual crise da sociedade americana.
Fonte: http://ipco.org.br e www.rainhamaria.com.br
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