19.11.2012 - “Os Estados Unidos são um país rico e religioso. Isso é mais fácil de medir em indicadores de saúde social, como taxas de abortos, de gravidez na adolescência, de suicídios, de doenças sexualmente transmissíveis, de homicídios, de crimes de modo geral. Quanto mais religiosa uma nação, piores esses indicadores”.
Dr. Michael Shermer - Pesquisador e Psicólogo Americano (1)
A British Broadcasting Corporation (BBC) encarregou um grupo de pesquisadores do Departamento de Estudos da Paz da Universidade de Bradford, no Reino Unido, de dar uma resposta satisfatória à pergunta: A religião promove a paz ou a guerra? Veja a conclusão dessa pesquisa.
Em um artigo publicado, os pesquisadores disseram: “Após estudarmos análises históricas feitas por especialistas de várias áreas, concluímos que houve poucas guerras realmente religiosas nos últimos cem anos”. Eles explicaram que algumas guerras, “em geral retratadas pela mídia e outras fontes como religiosas, foram na realidade motivada por nacionalismo, libertação de territórios ou autodefesa”.
Contudo, muitas pessoas alegam que os clérigos, quer por suas ações quer por seu silêncio, toleraram e ativamente apoiaram muitos conflitos armados, conforme mostram as seguintes citações:
1. “Parece existir uma relação entre religião e violência praticamente em todos os lugares... Em anos recentes, a violência religiosa estourou entre cristãos conservadores nos Estados Unidos, muçulmanos e judeus furiosos no Oriente Médio, hindus e muçulmanos no sul da Ásia, e comunidades religiosas nativas na África e na Indonésia... As pessoas envolvidas nesses casos usaram a religião como fundamento de sua identidade política e para justificar suas ideologias de vingança”. – Terror in the Mind of God – The Global Rise of Religious Violence (O Terror na Mente de Deus – O Crescimento Global da Violência Religiosa).
2. “Ironicamente, os países onde há fervor religioso costumam sofrer os piores males sociais... O grande número de religiões não conseguiu impedir o alto índice de criminalidade... A evidência parece óbvia: se quiser encontrar um lugar seguro, decente, organizado e ‘civilizado’ para morar, evite lugares onde há muita religiosidade”. – Holy Hatred (Ódio Sagrado).
3. “Os batistas são muito mais conhecidos pela guerra do que pela paz... Quando a questão da escravidão [americana] e outros acontecimentos dividiram as denominações e depois a nação no século XIX, os batistas do norte e do sul apoiaram a guerra como uma cruzada justa e presumiram que Deus estava do seu lado”.
Eles também se identificaram com os esforços nacionais de guerrear contra a Inglaterra (1812), o México (1845) e a Espanha (1898). Justificaram sua participação nos dois últimos casos, dizendo que ‘o motivo principal foi levar liberdade religiosa para os povos oprimidos e abrir novos territórios para a obra missionária’. “A questão não é que os batistas queriam guerra em vez de paz, mas que, em geral, quando a guerra se tornou realidade, eles a apoiaram e participaram nela”. – Review and Expositor – A Baptist Theological Journal.
“O Dr. Charles A. Eaton, pastor da Igreja Batista na Madison Avenue, anunciou ontem do púlpito que sua casa seria usada como posto de alistamento para homens que quisessem se juntar ao exercito ou à marinha”. “Ele foi um dos 12 pastores na cidade que pregaram sermões de guerra em seus cultos nas manhãs de domingo e que incentivaram homens e mulheres a demonstrar sua lealdade à nação e à democracia por oferecer seus serviços na guerra assim que possível. Viam-se muitas igrejas decoradas com bandeiras”. – The New York Times, 16 de abril de 1917.
4. “Historiadores identificaram motivos religiosos por trás de guerras na maioria das eras e em praticamente todos os mais variados povos e culturas, e em geral nos dois lados combatentes. A velha expressão ‘os deuses estão conosco’ estava entre as primeiras e mais eficientes para estimular a participação em guerras”. – The Age of Wars of Religion, 1000-1650 – Na Encyclopedia of Global Warfare and Civilization (A Era das Guerras Religiosas, 1000-1650 – Enciclopédia de Guerra Global e Civilização).
5. “Os líderes religiosos... precisam refletir de modo mais crítico sobre sua falha em prover uma liderança mais eficiente e em declarar os verdadeiros valores fundamentais de suas respectivas crenças... É verdade que todas as religiões almejam a paz, mas não se pode afirmar que elas conseguiram em algum momento alcançar esse ideal”. – Violence in God’s Name – Religion in na Age of Conflict (Violência em Nome de Deus – A Religião numa Era de Conflitos).
Ao longo da História, os clérigos de todas as principais religiões da cristandade (católica, ortodoxa e protestante) forneceram um suprimento infindável de padres, pastores e capelães para dar mais confiança às tropas e orar pelos mortos e moribundos – nos dois lados de qualquer conflito. Por darem esse apoio, eles aprovaram o derramamento de sangue e deram sua bênção a todas as forças militares. Alguns talvez ainda digam que não cabe à religião a culpa pelas guerras. Dizer que a religião é a principal causa de todos os conflitos sugere que, se ela não existisse, haveria poucas guerras. Esse argumento é razoável? Será que conseguiríamos acabar com as guerras por simplesmente eliminar a religião? Seja qual for sua resposta, ninguém pode negar este fato: a religião não uniu a humanidade. Veja alguns motivos disso.
Dividida Pela Religião
A família humana está dividida pela religião, e várias das principais religiões estão em constante rivalidade. Será que podemos acreditar que algum dia budistas, cristãos, hindus, judeus e muçulmanos vão conviver em paz?
Outra triste realidade são as divisões dentro de cada uma dessas principais religiões. Por exemplo, segundo certa estimativa, a cristandade está dividida em mais de 41 mil denominações (Atlas of Global Christianity, 2010). O islamismo também está dividido por crenças conflitantes. De acordo com uma agência de notícias do Oriente Médio, o erudito muçulmano, Mohsen Hojjat, admitiu recentemente que “a desunião entre os muçulmanos é a principal fonte dos problemas no mundo islâmico”. Outras religiões influentes, como o budismo, hinduísmo e judaísmo, também estão fragmentadas em muitas seitas conflitantes.
A Religião na Política
Diz o diretor americano, do espetacular filme: “O Exorcista”, William Friedkin: “Temos lideranças políticas que tratam a fé como algo primitivo nos Estados Unidos. Ninguém acredita mais na Igreja”, (O Globo-Segundo Caderno, 16/11/2012, p.1).
A religião influencia quase todos os aspectos da vida. A revista The Economist disse que, “em todo tipo de área, incluindo os negócios, as pessoas religiosas estão expressando mais abertamente suas crenças. A religião também está surgindo no cenário econômico”. Isso separa as pessoas, em vez de uni-las.
Em muitos países, as religiões predominantes se tornaram símbolos de identidade patriótica e racial. Por isso, a linha entre ódio nacionalista, preconceito racial, rivalidade étnica e inimizade religiosa é praticamente imperceptível. Essa combinação explosiva tem os ingredientes necessários para devastar nosso mundo.
O grande paradoxo em tudo isso é que muitas religiões alegam representar o Deus da paz, do amor e da justiça.
PAÍSES RELIGIOSOS E SUAS BOMBAS
“Vamos transformar o mundo num lugar melhor. Vamos nos livrar da religião”. Foi isso que o filósofo holandês Floris van den Berg recomendou em sua palestra intitulada: “Como se Livrar da Religião e Por Quê”. No mundo inteiro, especialistas de várias áreas do conhecimento também estão promovendo o fim da religião.
“O mundo precisa despertar do longo pesadelo da crença religiosa”, disse Steven Weinberg, físico ganhador do prêmio Nobel. Em anos recentes, tem-se ouvido muito sobre como os problemas deste mundo seriam grandemente minimizados se a religião fosse eliminada. Livros contra a religião proliferam e são bem populares. Da TV a internet, há um desafeto sistemático contra o sistema religioso.
Cientistas proeminentes têm se reunido para discutir o que, para eles, é uma necessidade urgente: acabar com a religião. Um número cada vez maior de ateus está inundando a mídia com seu ódio pela religião.
O cientista ateu mais badalado pela divulgação do ateísmo é o biólogo inglês Richard Dawkins, autor do virulento livro: Deus, um Delírio, diz ele: “O mundo seria melhor sem religião” (2).
Por mais que eu compreenda as razões pelas quais as pessoas são religiosas, para mim as religiões do deserto, as que chamamos de monoteístas, são a raiz do mal. “Que seja judaísmo, cristianismo ou islamismo”, afirma o escritor, poeta, pintor e dramaturgo sul-africano Breyten Breytenbach (3).
Apenas 9 países têm armas nucleares, entre Rússia, EUA, China e Índia. Parece pouco, mas, segundo o físico da USP José Goldemberg, é mais que suficiente para nos riscar do mapa. “Bastaria lançar um décimo das bombas que existem hoje para dizimar a população da Terra”. Estima-se que haja em torno de 19 mil armas nucleares no mundo. A mais temível é a B83, equivalente a 692 bombas de Hiroshima. Pertence aos EUA, que detêm 40% do arsenal nuclear do planeta. Mas a Rússia é que domina, com 50%. O maior teste nuclear realizado até hoje ocorreu lá, em 1961, com a explosão da Tsar, equivalente a 4.615 bombas de Hiroshima.
O Tratado de Não-Proliferação Nuclear entrou em vigor nos anos 70 e já teve adesão de 189 países, incluindo EUA e Rússia, que se comprometem a um gradual desarmamento. Mas Israel, Paquistão, Índia e Coréia do Norte, que também possuem armas nucleares, não fazem parte do acordo. Se suas bombas atômicas saírem do repouso, promoverão o maior genocídio de nossa história – dando um fim de vez a ela.
Hoje, o clube das potências com arsenais nucleares inclui Rússia, EUA, Reino Unido, China, França, Índia, Paquistão, Coréia do Norte e Israel. Detalhe nada insignificante: alguns desses países estão em regiões de grande potencial para conflitos. Indianos e paquistaneses, por exemplo, vivem se estranhando. Já os norte-coreanos estão tecnicamente em guerra com seus vizinhos do sul desde 1950, quando começou a Guerra da Coréia. O conflito, que terminou na prática em 1953, nunca foi formalmente encerrado – os dois lados permanecem em trégua, embora os atritos sejam freqüentes. E ainda há o caso do Irã, que jura ter um programa nuclear de propósitos estritamente pacíficos, embora pouca gente acredite. O atual regime iraniano não esconde de ninguém que nega a Israel o direito de existir. O temor da comunidade internacional é de que os iranianos joguem uma bomba atômica sobre seus arquirrivais israelenses assim que consigam fabricá-la (4).
Esses países ditos religiosos gastam tanto com armas potentes e com guerras e não deveriam gastar tudo pela paz? Daí muito gente não quer saber de religião e ver muitos religiosos como hipócritas profissionais.
A atual fase do conflito armado entre Israel e os grupos extremistas palestinos na Faixa de Gaza, como o Hamas e a Jihad Islâmica, mostra que ambas as partes buscaram tornar suas forças militares mais eficientes. “Israel investe em precisão, enquanto o Hamas busca aumentar seu poder de fogo”, diz o engenheiro Uzi Rubin, chefe do programa israelense de defesa de mísseis entre 1991 e 1999, (O Globo-Mundo, 17/11/2012, p. 29).
É importante ressaltar que as duas partes professam o mesmo Deus e são parentes.
Na audiência geral de quarta-feira, dia 19 de setembro de 2012, o Papa Bento XVI recordou os “dias extraordinários” da viagem apostólica ao Líbano, disse: “Cristãos e muçulmanos unidos pela paz chegou o momento de darmos todos juntos um testemunho decidido contra as divisões, contra a violência e contra a guerra. A tarefa da Igreja e das diversas religiões é, portanto a purificação. Contra qualquer violência, agindo nas consciências para construir a paz” (5).
Um estudo sério da história da religião mostra uma forma de adoração gloriosa que se destaca como muito diferente das demais. Ela é praticada por poucas pessoas que vivem verdadeiramente a religião do amor. Essa religião foi fundada por Jesus Cristo e seus apóstolos. Essa religião por sua radical prática da caridade tem na sua caminhada muitos mártires.
A religião de Cristo é o amor, a paz, a liberdade e pão para todos. Fraternidade universal e o caminho para morada eterna da perfeita felicidade são ensinamentos fundamentais de Jesus Cristo.
Seu discípulo Tiago praticou seu ensino e deixou para posteridade essa prática verdadeira religião. “A religião pura e sem mácula diante de Deus, nosso Pai, consiste nisto: visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações e guarda-se livre da corrupção do mundo” (Tiago 1, 27).
INTOLERÂNCIA RELIGIOSA
“O hábito de invocar a autoridade divina para legitimar preconceitos, perseguições e atrocidades é muito antigo, mas ressurgiu com força nos últimos tempos. A meu ver, é o problema central do mundo contemporâneo. E não está de maneira nenhuma restrito ao universo islâmico”.
Salman Rushdie - Escritor Anglo-indiano (6)
A intolerância move múltiplos conflitos de ordem sectária, racial e política ou uma mistura desses ingredientes. É conhecida a rivalidade entre hindus e muçulmanos, que precede a partição pela Grã-Bretanha do subcontinente indiano entre os novos países independentes Índia e Paquistão, em 1947. Mais de seis milhões de muçulmanos se deslocaram para o Paquistão, igual número de hindus e siks abandonaram o Punjab em direção à Índia. Esse caos, somado a massacres étnicos, deixou centenas de milhares de mortos, numa das grandes tragédias modernas. A Índia vive hoje um novo êxodo. Mais de 500 mil pessoas fogem em pânico após falsas ameaças de ataques de muçulmanos a hindus.
No Paquistão, os 2 milhões de cristãos representam pouco mais de 1% da população, esmagadoramente muçulmana. A minoria é pressionada. Uma menina cristã de 11 anos corre risco de ser condenada à morte porque, supostamente, queimou um exemplar do Alcorão. Em Mianmar, os choques são entre a maioria budista e muçulmana. Desde junho, mataram 78 pessoas. São casos em que religiões não desarmam espíritos. Ao contrário.
No Oriente Médio, o Islã é amplamente majoritário, mas está longe de concorrer para a estabilidade. O Líbano é um microcosmo. Com 60% de muçulmanos e 40% de cristãos (este dado torna o país único na região), tem 18 grupos reconhecidos oficialmente. Segundo antiga divisão político-religiosa, o presidente é sempre um cristão; o primeiro-ministro, muçulmano sunita; o presidente do Parlamento, xiita. E o Parlamento tem metade dos assentos para cristãos (maronitas, ortodoxos, armênios, assírios, católicos, protestantes e melquitas, entre outros) e metade para muçulmanos (sunitas, xiitas e drusos). Tem sido impossível não se produzirem animosidades.
Outra forte divisão no Líbano é entre os prós e os contra a Síria. O caráter sectário do conflito sírio – em que a maioria sunita luta para derrubar uma ditadura de mais de 40 anos dos alauitas (ramo do xiismo) – transborda para território libanês. Em Trípoli, Norte do país, quatro pessoas morreram e 60 ficaram feridas em enfrentamentos entre sunitas, simpáticos à oposição sunita síria, e alauitas, defensores do ditador Bashar Assad. O conflito sírio tem potencial para desestabilizar outros países da mesma maneira, radicalizando antagonismos.
“No Líbano, tudo tem de ser observado por dois prismas: o da religião e o da posição quanto à velha influência da Síria”, diz Fadi Ahmar cientista político da Universidade Saint-Joseph, de Beirute (O Globo-Mundo, 20/10/2012, p. 36).
Só uma atuação unida da comunidade internacional pode dar resposta à necessidade de conter os conflitos, o que hoje não se consegue devido às divisões no Conselho de Segurança da ONU. Por isso, o mundo precisa do concurso do maior número possível de líderes religiosos numa inédita ação conjunta. É necessário que joguem seu peso na causa do desarmamento dos espíritos envenenados por décadas ou séculos de rivalidades (7).
Conclusão
O renomado teólogo suíço, filósofo, professor e escritor Hans Küng afirmou: “Não haverá paz no mundo enquanto não houver paz entre as religiões”. “Viver juntos é o futuro”, acredita o Papa Bento (8).
Toda solução para os conflitos da humanidade vai se dá no colossal reavivamento do Espírito Santo. Esse acontecimento será de caráter mundial, ecumênico e escatológico. Será a realização da gloriosa Parusia de Cristo! Orar e trabalhar por esse dia imensurável.
Testemunhar a paz e a justiça é urgente. Nunca o mundo precisou tanto de promotores do bem como a nossa era! Principalmente dentro da cada religião e igrejas.
Pe. Inácio José do Vale
Professor de História da Igreja
Instituto Teológico Bento XVI
Sociólogo em Ciência da Religião
Pesquisador do CAEEC (Área Pós-Graduação)
E-mail: [email protected]
www.rainhamaria.com.br
Notas:
(1) O Globo-Prosa e Verso, 15/09/2012, p. 3.
(2) Veja, 27/06/2007, p. 120.